M u d a n ç a

Ainda hoje recordo uma cena triste de que fui testemunha ainda menino de calças curtas (voltei a sê-lo porque hoje, velho, só uso bermudas): a partida para São Paulo de um amigo de meu pai. Como na terrinha ele não estava tendo mais condições de sobrevivência, resolveu tentar a vida longe numa cidade grande. Liquidou tudo que tinha, e o que não podia levar, coisas de estimação, ele deu de presente aos amigos. Deu também de presente o papagaio, o gato e cachorro. Destes se separou chrando, ele, a mulher e o filho (amigo e colega de escola meu). Pegou o transporte, um caminhãodeum amigo que viajava para Sampa e foi embora, chorando. Todos, até eu que era apenas um menino, sabíamos que ele estava se despendido do que mais amava a suaterra, suas raízes, seus amigos, uma parte da sua vida.

Só tivemos raras notícias dele, assim mesmo por alguem que casualmente ele encontrava. Não foi feliz, terminou sendo vigia de uma empresa, dava pro sustento e só. Mais tarde soubemos que morreu de um infarto no próprio serviço. A mulhr que era muitotrabalhadora conseguiu montar uma espécie de pensão e, com isso, formou o filho, engenheiro, trabalha numa empresa paulista. Este veio algumas vezes a nossa terra, mas sem nenhuma emoção, fez a vida fora, saiu menino, nem se recorava direito da terra, achava muitoacanhada,assimdeixou de visitá-la. Rompeu co o que restava das raízes. A mãe também morreu. Ficou somente em algumas pessoas, incusive eu, a recordação e a certeza de que as circunstâncias são capazes de acabar com as raízes de uma famaília. É muito triste. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 30/01/2018
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