BILHETE ANTROPOFÁGICO

Que não nos percamos. É meu desejo estejas presente nas interlocuções ao pé dos textos postados em meu perfil no Face. A utilização desta página pessoal é no sentido de fazer a interação entre poetas-autores e poetas-leitores, a fim de que a literatura, em especial a Poesia, se propague neste lindo e gigantesco país que muito fala e lê muito pouco. Do nada nasce o nada. Caso o (pretenso) escritor não se aplique, por simples ação costumeira, na leitura dos textos dos autores consagrados e não torne a sua interação com o outro uma prática eficaz, a literatura não cumprirá a sua destinação: fazer o humano mais feliz através da produção das várias nuanças do Belo, aplacando-se, desta maneira, a hostilidade dos dias, graças à fúria criativa do “condenado ao pensar”. Este sentir permite que suportemos melhor os extravios da consciência e a falta de vontade de conviver. O humano é somente um ser diferenciado devido à capacidade de pensar, falar e elaborar um processo racional. No mais, ele é um antropofágico. O animal humano come e deglute para poder conviver com mais vitalidade, enfim, para adquirir forças para competir em plenitude, vencer o temor e a fome. Como em todo o animal, o processo final é a excreção de parte do que come. O mais urgente, antes que a absorção se estiole e o esquecimento tome foro, é aproveitar o que vai na cabeça, nos neurônios, no ventre corporal, na unha torta do dedo mínimo, e de imediato, registrar a natural fagocitose ocorrente através da fixação escrita do momentâneo clique antropofágico de lucidez enternecida, fruto nobre do sentir e do pensar. Enfim, fazer os registros do pensamento, que é um fenômeno que só bicho-homem consegue – em liberdade ou não. Sem leitura precedente, não há como se pretender que o escritor traga bons e criativos textos a lume. Repito: a garatuja pessoal, o rabisco quase instantâneo, mormente na Poesia, é o fruto de um processo consequente do comer, deglutir e excretar. E, repentinamente, em mim se libertará Macunaíma, o herói sem caráter, dedura em riste o espiritual literário de Mário de Andrade...

– Do livro A VERTENTE INSENSATA, 2017/18.

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