REBELDIA REGADA À SUOR
A solidão permeia os rincões cangaços da minha alma sem a fissura dos grandes descobridores. Vai consumindo cada teco destravando portões, cadeados, muros. Seus tentáculos sedentos não perdoam quaisquer brechas ainda florescendo nem, tampouco, as rebarbas que teimarem em não arredar pé de mim. A minha solidão é algoz estonteante que revira do avesso, desarrumando as mechas do medo, os atalhos da dúvida, as ladeiras da inquietação. Cumpre seu papel com tresloucado fôlego, abdicando dos momentos de folga com rebeldia regada à suor. É uma solidão respingada de oásis para iludir meus vícios, disfarçando os gritos com tardios folguedos de roda. Tem horas em que essa solidão será o remendo que evitará o naufrágio da minha alma, como se pouco se importasse com as raízes puídas que ainda persistirem, ou com as têmporas absurdas de um querer-bem extravasado, o mesmo querer-bem que arranquei dos chãos esquecidos daquele cerzir atroz. A minha solidão pouco se importa com temporais dissimulados, nem com os fiapos de angústias mal passadas de outrora.
Ela levará seu séquito numa amarga procissão, condensando nas pegadas o gosto insensato das fronhas sem recheio, as mesmas em que debrucei para ver o que tinha além-mar. Levo minhas solidões cantarolando as querelas da saudade, solenemente, até roçar o final da jornada, e isso me fará menino de novo. O mesmo menino que, outrora, se disse ungido pelos rasgos da vida. Agora, acolhido e feliz, terei por certo encontrado as meadas que darão sentido aos meus improvisos que se fizerem açucarados, podendo, quem sabe, morrer agora em paz.
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