A HISTÓRIA DO VENTO QUE VIROU ORVALHO

O vento estava cansado da rotina. Tanto tempo fazendo as mesmas coisas era demais para qualquer um, até para o vento. Queria ver novas paisagens, enfrentar novos desafios, descobrir novas cores, cheiros e gostos. Mas era vento, e como tal tinha que viver como vento. Mas mesmo sabendo das regras do jogo, resolveu ir atrás de emoções que nunca tinha experimentado antes. Então se disfarçou de orvalho para sentir o que os orvalhos sentem. Adorou tanto que não queria voltar a ser vento. A vida de orvalho era bem mais gostosa, acordando junto com as manhãs e untando as plantas, uma atrás da outra. A assim fez. Como não havia mais vento, não tinha jeito das sementes cumprirem sua sina de fecundar novos chãos. E sem chão fecundado não tem jeito de florescer. As plantas que já existiam cumpriam seu ciclo e secaram de uma vez. Assim tudo foi se deserdando pouco a pouco, mas orvalhado como nunca esteve antes, obra de um vento radiante e feliz por estar cumprindo tão bem o novo papel. Com o fim das plantas, a vida também se findou. não restando mais nada vivo nesse mundo, apenas um orvalho que não tinha mais onde cair. Mas era um orvalho que não desistia de fazer o que deveria fazer. Orvalho de fibra, bom de briga, que nunca arredava pé de ir até o fim do seu trabalho. De vez em quando batia uma solidão danada, daquelas que encharcam a alma até não poder mais. Encharcam não, orvalham. Com o melhor orvalho que já pousou por essas bandas.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 22/01/2018
Código do texto: T6232749
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