Eu tenho medo

Eu tenho medo de não ver o tempo da honestidade invadindo meu país. Eu tenho medo de não ver os meus netos tornarem-se homens e mulheres, adultos e responsáveis. Eu tenho medo, como canta Belchior, de “abrir a porta e dar para o sertão de minha solidão”.

Eu tenho medo de viver o que me resta de vida, de não saber aproveitar com sabedoria e eficiência desfrutar dos dias que ainda falto viver. Da morte não tenho medo não. Eu tenho medo da mediocridade de que tentei me afastar minha vida inteira.

Eu tenho medo do meu desapego das coisas do coração, do meu desamor diante dos amores que me foram oferecidos de bandeja e eu os ignorei ou deles desfrutei com frivolidade e com o hedonismo sempre presente em mim, e por mim ignorado, justificado e cultivado como se boa coisa fosse.

Da solidão não tenho medo não. Solitário é o homem que não tem amigos, solitário é o homem que não tem livros ou nunca os leu. Solitário é um deficiente mental, que por não gostar de ler é incapaz de escrever. A solidão para mim é apenas um substantivo comum, tão comum que poderia ser abstrato, ou um sujeito oculto.

Nunca soube ganhar dinheiro para mim mesmo, mas tenho tudo que necessito. O legado que deixo é a minha descendência. Do casamento, duas filhas e um filho. De relacionamentos oficiosos, duas filhas, a mais nova delas chama-se Rebeca e deve ter hoje cerca de vinte e um anos e com certeza é uma bela moça, uma morena de traços suaves e um belo corpo de baiana. A sua mãe é uma linda mulher negra das terras do Senhor do Bonfim.

Não mais me importo com julgamentos ou com o que pensem de mim, já vivi mais do que tenho ainda de vida. Envelheci com certa dignidade, eu e a velhice nos damos bem, não diria que somos amigos, mas mantemos uma convivência civilizada.

Da velhice não tenho medo não. Tenho medo da chatice, da rabugice e passo longe daquelas reuniões de velhos, em um banco qualquer de supermercado ou em um cantinho reservado de um shopping center. Velhos falando aos quatro ventos que se sentem com vinte, trinta anos, mas cuja aparência os desmente! Mentindo para si mesmos e para os demais, que ainda conseguem ter duas transas em uma noite!

Temos que ser senhores do nosso tempo, com ele fazer acordos e renová-los vez em quando. Saber que sexo não se pratica só com virilidade e infinitas penetrações, mas se faz também com sabedoria. Escolher bem as parceiras, não se envolver com mulheres muito jovens, elas com muita razão sairão com você por mero interesse financeiro.

Também não devemos sair com mulheres da nossa idade nem que tenham sido ou seja muito próximas de sua família ou da sua ex.

Uma diferença entre dez e quinze anos da sua idade é um bom indicador. Fuja de peruas e de mulheres pouco cultas, ou com muito dinheiro. Cor nem posição social contam na escolha da parceira. Evite ser agressivo grosseiro ou excessivamente engraçado.

As mulheres são infinitamente mais inteligentes do que nos homens, seja discreto, seja você, mande-lhe sinais imperceptíveis elas saberão interceptá-los e interpretá-los se estiverem interessadas. Não queira leva-la para cama no primeiro encontro, mulheres são seres curiosos, se ela ficou interessada, com certeza vai querer encontrá-lo outra vez.

De mulheres nunca tive medo. Tenho medo do passivo que elas trazem consigo, das longas estórias de filhos, netos e ex-maridos, da mãe doente, da tia velha, etc. Essas situações acabam por desestimular a sua libido, inibindo o seu já combalido tesão.

Acreditem, há lindas mulheres maduras, algumas quase intocadas, gemas raras que nunca foram lapidadas, algumas nunca foram amadas, fogem do amor, outras sofridas, mal amadas, com as almas dilaceradas, essas devem ser tratadas com muito respeito, carinho e muito mais cuidado do que as demais.

Meu “ter medo” é assim, é não ter medo de sentir medo.

Carambei/PR, 26 de dezembro de 2017.