Verão em Porto Alegre
“No inverno, fica tarde mais cedo”
(Humberto Gessinger)
Janeiro em Porto Alegre, como todo mundo sabe, tem quatro estações no mesmo dia: o verão, o calorão, o mormaço e a porta do inferno. Eu acho que Forno Alegre deveria até sair da informalidade e ser oficializado o nome sazonal da cidade, por razões de tempo de serviço.
A sensação de abafamento é constante, comparável ao calor amazônico, ou senegalês. Todo mundo se sente um pãozinho no forno. Ainda mais no fim da tarde nos nossos ônibus, que deveriam ter ar-condicionado, mas sabe como é: estragado uma vez, estragado pra sempre. Quem não escapou para o litoral se refugia nos shopping centers. Em casa, só debaixo de ventilador o dia todo. Na rua, o povo disputa espaço à sombra de qualquer marquise. E atividade física ao ar livre, só para os bravos.
É que Porto Alegre não tem “chuva de verão”. Quando parece que o tempo vai amenizar um tantinho, é que lá vem! Aqui não tem tormenta, tempestade, temporal... Tem é “toró brabo”. E bem brabo: de derrubar árvore, entupir bocas de lobo, fazer brotar novos rios e afluentes em cada lomba. O único refresco que isso traz é o da memória de quem vive na metade da cidade que sem-pre-a-la-ga-to-do-ve-rão.
Um cientista uma vez disse: “deem-me uma alavanca e moverei o mundo”. Então alguém, por favor, dê a ele a tal alavanca. Que ele mova o mundo um pouquinho só, só para Porto Alegre sair do Paralelo 30 e fazer anoitecer mais cedo. Porto Alegre se mudou para mais perto do Sol, isso é claro como um borrão de protetor solar.
Os russos têm as suas noites brancas: o Sol quase não se põe, demora horas na linha do horizonte, fica dia até perto da meia-noite. Imagina o horror, a duração interminável do sofrimento... Nós, porto-alegrenses, nos solidarizamos. Mas eles, ao menos, têm a sua vodca. E nós? Alguma bebida geladinha, refrescante? Não, nós esperamos a noite com chimarrão, erva amarga com água quente, baita remédio!
Calor, pressão baixa, dor-de-cabeça, dificuldade para enxergar, uso obrigatório de chapéu e óculos de sol... Maldito sol que custa a ir embora. O relógio nos diz que já são oito da noite, mas o céu ainda está claro. É tarde, mas não parece. O pôr-do-sol mais lindo do mundo vem com o lusco-fusco mais comprido. Dura horas até a noite cair.
No verão em Porto Alegre, fico só torcendo para o ano começar... o que acontece, é claro, depois do Carnaval, lá quase em março. Porque aí já é quase outono, e outono já é quase inverno. E no inverno, fica tarde mais cedo.