Tempos de escola

Adoro tarefas escolares e, neste caso, mais ainda. Pedir a uma avó professora um relato de seu tempo de escola é proporcionar-lhe mais que um prazer. É fazê-la reviver, saborear de novo uma fatia doce da sua vida de menina e ter a possibilidade de compartilhá-la com um netinho tão amado. Que você a experimente e se delicie com ela também!

Para começar, você vai ver que a escola do meu tempo era bem diferente da sua, mas também igual.

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Não, não estou lelé da cuca!

A escola foi e continua sendo um lugar de encantamento. Como as varinhas mágicas das histórias, ela transforma. As pessoas e o mundo. A magia? Chama-se educação.

Por isso amo as escolas. E as amei tanto que me tornei professora.

Passei por várias. A primeira, quanta emoção!

Ficava em Itapira, interior de São Paulo, cidade em que morei dos três aos seis anos. Lembro-me, como se fosse hoje, de como me senti importante ao entrar no Grupo Escolar Júlio de Mesquita, onde minha mãe era professora e meus irmãos já estudavam.... Eu também ia aprender a ler!

Mas, a alegria durou pouco. Para minha tristeza, alguns meses depois, tivemos que mudar de cidade.

Meu pai, que era juiz de direito, foi transferido para Mogi das Cruzes. Fazer o quê? Fazia parte da carreira dos juízes. Até os catorze anos, quando finalmente nos mudamos para São Paulo, vivíamos de mudança! A cada três anos ou um pouquinho mais, tudo se repetia: deixar a casa, os quintais, as brincadeiras de rua com os amigos e ... recomeçar a vida num lugar desconhecido.

Aos 6 anos e meio deixei o sol de Itapira, minha primeira escola — o Grupo Escolar Dr. Júlio de Mesquita —, minha professora, minhas amigas e um sonho que estava prestes a se realizar: tornar-me tão importante como meus irmãos mais velhos que já sabiam ler e escrever.

Sob protestos cheguei a Mogi das Cruzes em julho. Pleno inverno!!! Garoa. Brrrrrrrrr!!!! Já não bastava o frio que sentia por dentro?

Mas a gente se acostuma logo. Pois não é que já no início de agosto, num dia frio, mas ensolarado, começaram as aulas. E aí o calorzinho foi chegando...Pouco a pouco.

Adorei o Grupo Escolar Coronel Almeida. Ficava na praça principal da cidade, em frente à Igreja Matriz. Um casarão bonito, antigo, com muitas janelas, coqueiros nas laterais e um pátio ao fundo.

Você sabia que é no mês de agosto que começam a florir os ipês-amarelos? Pois, naquele agosto, no pátio, estava o ipê mais lindo que já vi. De todos os seus galhos, sem uma folha sequer, explodiam cachos e mais cachos de flores, de um amarelo tão vivo, que podiam competir com o sol. Fiquei maravilhada! E mais ainda, quando Dona Stella, minha nova professora, informou que a aula de reinício não seria na classe, mas exatamente ali. E passou-nos a primeira tarefa: desenhar toda aquela beleza. Isso bastou para me cativar. Fiz um desenho que achei lindo e o pintei com todos os amarelos da alegria. Até hoje me lembro dessa aula mágica e inusitada para aqueles tempos, que tanto me encheu de contentamento.

Esse foi só o começo. Outras pequenas felicidades viriam. Que delícia receber a cartilha Sodré! Quanta satisfação copiar da lousa as letras e as sílabas e conseguir imitar a caligrafia redondinha de Dona Stella!

E, então, o grande dia chegou. Olhando para uma das lições da cartilha, tive um estalo. De repente descobri que ler não era um bicho de sete cabeças! Bastava juntar as sílabas e formar as palavras. Li sozinha toda a cartilha, de um só fôlego, até o final. Eu tinha aprendido a ler!!!

Célia Fagundes Rovai
Enviado por Célia Fagundes Rovai em 14/01/2018
Reeditado em 15/01/2018
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