Os possíveis destinos da prematuridade
"A adversidade é um trampolim para a maturidade."
No ano de 2014 vivi o sonho da maternidade ,uma fase mágica ,tudo corria bem com minha saúde e a do bebê. No dia 01 de setembro fiz a última ultrassonografia e não foi detectado nenhuma anormalidade. O bebê já pesava 1.600 g. Dois dias depois veio o susto: inexplicavelmente aconteceu o rompimento da bolsa de líquido amniótico, tive que correr às pressas para Goiânia ,e chegando lá ,os médicos decidiram manter a gestação por mais uns dias até que o houvesse o amadurecimento de alguns órgãos. Porém a tentativa de adiamento do parto deu errado ,porque contraí uma infecção ,que atingiu também o bebê, então tiveram que realizar o parto às pressas. Minha filhinha nasceu com menos de 34 semanas completas de idade gestacional, pesando 1.425 g e ainda com processo infeccioso. Teve que se submeter a vinte um longos dias em uma UTI neonatal .
Percebi que há três diferentes formas de se sair de uma UTI neonatal: sem vida, infelizmente é alto o índice de bebês que não resistem, por mais que haja empenho da equipe médica (inclusive presenciei o drama de uma família que perdeu o filho). Outra possível saída é a criança sair com sequelas graves, deficiências físicas, mentais, originadas da prematuridade dos órgãos. E outra, que gostaria que fosse o destino de todos, e é o da minha filhinha, para a glória de Deus, é quando o organismo da criança cria resistência em decorrência das altas doses de medicamentos e procedimentos e se torna forte ,dificilmente abalado por doenças.
Dessas experiências pude extrair algumas lições . Descobri que nós seres humanos passamos por situações similares, somos surpreendidos por situações que nascem do nada , para as quais não estamos preparados, aliás ,acredito que nunca estamos cem por cento preparados para suportar a dor .A gente aprende tanta coisa na vida mas não aprende a lidar coma a perda, seja de um ente querido, da saúde, de um bem material. “Aprendemos pilotar aeronaves e não aprendemos a gerenciar o eu, a controlar as emoções” ,segundo Augusto Cury. Parece que fomos programados para ganhar sempre, e não é o acontece, perdemos muito mais que ganhamos. Às vezes somos prematuros para suportar alguns situações, que foge do nosso controle, não temos nada a fazer, não depende de nossa vontade, tão somente acontecem repentinamente. A vida é uma caixa de surpresa diuturnamente. Então entramos para a UTI da alma: são aqueles momentos que tudo aparece em tons marrons, tristeza, dor, sofrimento, lágrimas, desesperos.
Nesses momentos, assim como no hospital neonatal o contato com outras pessoas deve ser controlado, evitado, devido ao estado de vulnerabilidade e as possibilidades de ser afetado por uma bactéria. Tenho percebido que muitas vezes quando estamos muito machucados internamente ,adotamos uma conduta meio antissocial, evitamos o contato com as pessoas, às vezes elas se aproximam com a intenção de nos ajudar e nós não as compreendemos, desconfiamos de tudo e todos, vemos falsidade em todo canto ,uma palavra que nos foi direcionada com a finalidade de ajudar faz efeito contrário, estamos sempre em fuga ,na defensiva, achando que o mundo inteiro está contra nós e não percebemos que o problema é conosco.
Às vezes o recém- nascido prematuro não consegue respirar sem ajuda de aparelhos, e o mesmo acontece conosco em momentos de crises, se não for o oxigênio vindos do amor e cuidado de Deus com certeza não sobreviveremos.
E roupas então ?? Dificilmente encontra-se roupas adequadas para recém nascidos prematuros, tudo fica grande demais, sobrando. Também acontece com quem está vivendo a prematuridade figurada, nada serve a ele, todo ambiente é desagradável, sem graça. Isso acontece porque o melhor lugar de uma pessoa estar é em paz consigo mesma, e essa paz independe de fatores externos, não importa se residindo em uma mansão ou um casebre, numa metrópole ou num lugar isolado do interior, com inúmeras pessoas ao lado ou sozinho numa ilha, com grandes fortunas ou com um mísero salário mínimo. O sentimento é o mesmo.
Carinho e afeto são essenciais nesses momentos, ajuda na recuperação, a presença constante dos pais em uma UTI neonatal é indispensável. As pessoas que enfrentam dificuldade emocionais também precisam de companheirismo, atenção, uma dose de paciência, tolerância compreensão de familiares e de pessoas do convívio. Nesses momentos algumas pessoas se tornam insuportáveis, às vezes nem mesmo elas se suportam.
Na UTI figurada como na UTI neonatal os possíveis destinos são os mesmos: alguns não sobrevivem: são aqueles que infelizmente não têm forças suficiente para enfrentar a prematuridade, ou seja, situações inusitadas que causam dor intensa, sofrimento extremo. E na tentativa de aliviar a dor muitos tiram a própria vida, outros tiram a vida do semelhante, outros mergulham em vícios tentando fugir da situação.
Outros conseguem a recuperação ,mas de forma parcial, fica com sequelas ,que trazem limitações e as impedem de ter uma vida plena e de qualidade, são pessoas que não conseguem perdoar, esquecer uma ofensa, possui sentimento de rancor, desejo de vingança, ressentimento ,são por vezes pessoas amargas, pessimistas, frias, mal humoradas. Os relacionamentos sempre são um fracasso pois ela vive projetando nas pessoas que estão ao seu lado aquelas que a magoaram um dia. São pessoas que não conseguem abrir o coração e se entregar totalmente a nenhum sentimento, seja de amor, amizade, profissional. Fica sempre presa ao passado sombrio que viveu um dia.
E tem aqueles que tem o destino que teve minha filhinha, e gostaria que todas as pessoas tivessem ao vivenciarem as crises existenciais, que é fazer daquele momento de tormenta uma oportunidade de crescer, amadurecer .Pessoas assim saem dessas situações muito mais fortes, plenas e ousadas, prontas a enfrentar novos desafios de cabeça erguida ,são os reais guerreiros,que não se entregam, e saem dos mais fundos abismos para os picos das montanhas.
"Vencer é preciso"