Bucólica
Certa feita, estando em uma Feira do Livro, tinha meus 16/17 anos (faz tempo), parei frente a uma banca de livros e perguntei ao livreiro se tinha livros de Cecília Meireles.
Antes que respondesse, uma jovem ao meu lado, sabe Deus vinda de onde, pois não à percebera, disparou: - "não gosto de Cecília Meireles".
Taxativa, congelou-me os neurônios. Travou-me o cérebro e, antes que pudesse recuperar-me e responder-lhe, emendou: - " é muito bucólica".
E foi-se como chegara, deixando-me ali, estático.
Superado o choque, consegui balbuciar: - "eu gosto"; meio assim só para mim ouvir. Vai que ela ouça! E volte!
Esqueci o livreiro, a Feira, tudo! Não saia-me da cabeça a sentença: - "é muito bucólica".
Chegando em casa fui direto ao dicionário (recurso da época) pesquisar o que era a tal de "B U C Ó L I C A". E lá estava, "gênero literário poético em que os autores exaltam a vida simples, costumes ingênuos,
a tranquilidade, a paz, etc., etc. e tal.
Ali, naquele momento, nasci para a vida poética; tornei-me um poeta, talvez não tão bucólico assim, mas poeta.
A jovem, nunca mais a vi e creio que mesmo que lesse esse texto dificilmente lembraria do fato. Eu nunca esqueci.
Resolvi dividir esta história, que me acompanha a anos, para mostrar como fatos corriqueiros podem acompanhar-nos pela vida,
dar-nos um norte, moldar nosso perfil.
Mesmo o que num primeiro momento pode colocar-nos em xeque,
abre nossa mente para novos caminhos, novos horizontes.
Obrigado à jovem. Que tenhas encontrado o teu caminho. Foste muito importante; ajudaste a encontrar o meu.
Assinado, Poeta Bucólico.