A sabedoria das aves
Quando eu morava na Bahia, e tinha tempo para correr ao ar livre, gostava muito de vaze-lo no final do dia, quando os pássaros estavam de passagem, mudando-se para outro lugar, algum lugar qualquer, mas, todos os dias, naquele mesmo horário, eles iam-se embora.
É interessante como eles sabem a hora certa de levantar voou e se mudar. E o fazem sem drama, sem queixas, sem tristezas ou arrependimentos. Levantam-se todas as manhãs e vão, em bandos, sem atrasos, em busca de alimentos. Ao entardecer, no crepúsculo do dia, retornar aos seus ninhos, ainda em bandos.
O que dizer, então, das mudanças de estações, migrando-se de um local para outro? Encanta-me muito a capacidade de saber quando mudar, e simplesmente ir-se embora. Ah, e esse ‘ir-se embora’ doe tanto para nós humanos... Mas parece que elas, as aves, compreendem e aceitam o ir-se como parte valiosa e alegre da vida.
Como temos movimentos de vida parecidos, nós e os pássaros! Mas diferente deles, estamos sempre presos ao local, e, por isto mesmo, sofremos (uns mais que outros) para mudarmos. Muitas vezes até perdemos o ‘time’ das mudanças, e parece mesmo que, quando isto acontece, a vida nos empurra a seguir para novo ciclo, derrubando nossa casa atual. Somente então voamos para construir outros ninhos.
É preciso, no fim, sabermos ir embora, em busca de novos horizontes. Triste ou não, este é o único movimento durável da vida humana, assim como o é das aves. Tenho certa inveja da sabedoria delas, de aceitar as mudanças sem dores.
Marta Almeida: 18/12/20178