Uma manhã de horror...


Estava isolada no meu canto e pensava se algo poderia acontecer que pudesse acabar com a tranquilidade e paz que reinavam naquele momento.
Como de costume, sempre ficava sozinha durante o dia. Por isso, Madrinha pedia para que as portas da casa ficassem sempre trancadas, apesar de nunca ter sido importunada por ninguém.
Mas, tive a surpresa da chegada do Marcio, sobrinho de Madrinha, que retornava com algumas encomendas que ela pediu que ele pegasse na agencia do ônibus que vinha de Fortaleza. Era tudo material para o salão de beleza, que ela mantinha junto com Carla, sua filha adotiva.
Estranhei a atitude do rapaz por não ter ido embora. Mas não dei muita importância e continuei  ocupada com minhas inúmeras obrigações. Afinal, pensei, era sobrinho dela e eles tinham feito as pazes na noite anterior. Os dois não se falavam há alguns meses e finalmente se reconciliaram.
Mas, para meu mais íntimo desespero, logo percebi que o mesmo me observava de uma forma diferente e seguia com os olhos, todos os meus passos.
Fiquei atenta a qualquer situação diferente que pudesse ocorrer, mas acabei me desconcentrando, preocupada com conclusão de uma toalha de crochê que eu teria que entregar naquela mesma manhã.
De repente senti uma mão forte me agarrando por trás, segurando meus braços com força e pedindo, quase num sussurro, para eu não gritar.
Ainda que eu gritasse, não havia vizinhos nas redondezas.
Apenas duas casas nos separavam de onde estávamos, uma que ficava do outro lado da área de onde morávamos, e, uma outra de esquina, ocupada por pessoas bem reservadas.
Consegui me desvencilhar daquele monstro, mas ele permaneceu ali durante toda a manhã comigo, me agarrando de todas as formas. Eu apenas chorava e implorava para que ele fosse embora.
Assim, resolvi sentar numa cadeira e colocar as pernas debaixo da mesa, segurando firme nas bordas, enquanto ele arrastava a cadeira e tentava atingir seus mais promíscuos objetivos.
Quando percebeu que não conseguiria, sentou-se sobre minhas coxas e procurou saciar-se de uma maneira suja e nojenta. Depois saiu sem dizer palavra.
Quando Madrinha chegou eu estava tomando banho e chorando.
Contei tudo para ela e, pela primeira vez a vi se condoer por mim. Ela saiu de imediato e, depois de algum tempo, ao retornar, voltou-se contra mim, dizendo que eu que não prestava, que eu não era nada, pois eu era do interior e, com certeza devia ser qualquer uma de pé de cerca. Nunca ouvi palavras tão duras, estranhas e tão cruéis, que chegavam a me doer na alma.
Carla, que sempre me protegia, estava viajando. Portanto eu estava sozinha nessa, nem tinha com quem desabafar. Por instantes lembrei de minha mãe e de meu pai que tinha partido tão cedo pra junto de Deus. Não tinha como evitar, em minhas conversas com Ele, e fazer um questionamento, que mais parecia uma lamento: “ - Por que Pai, tudo isso comigo?
Soluçando eu adormecia na ilusão de que o outro dia seria melhor