Amores que se passam no Ônibus
Era tarde de segunda, sol forte e ônibus lotado. Ele ia a caminho do trabalho com o intuito de executar o que lhe dá prazer e experiência. Mas de repente algo acontece.
Ela surgiu sentada no ônibus. Sorriso tímido, cabelo ruivo solto, livros sobre Direito Constitucional, óculos denunciando um pouco da sua personalidade e um jeito que transborda simplicidade:
– Você quer que eu segure sua mochila?
– Oi?
– A mochila, me deixa segurar pra você.
– A tá… Tudo bem, obrigado!
Sem entender tanta espontaneidade, ele tira um dos fones e ensaia mentalmente dizer algo pra ela, mas não consegue. Ela parecia desfrutar do vento tocando sua pele e cabelos ondulando. A tempestade era realmente da cor dos olhos dela. Por vezes trocaram olhares, pois, talvez ela também tinha em mente falar algo pra ele, mas preferiu o silêncio tímido do momento.
Depois de uns 17 minutos o ponto de ônibus se aproximou e ela disse:
– Quer que eu deixe aqui?
– Não, pode me dar. Muito obrigado viu.
– De nada, com licença.
Ele nem ia passar pelo cobrador, mas foi junto e ambos passaram e ficaram na porta do ônibus. Ele se perguntou se seria loucura descer junto com ela e perguntar seu nome, mas não. Ele não fez isso.
Ele apenas observou ela descer, imaginando seus planos para aquela tarde, em qual período ela estaria do curso de Direito, se um dia a veria novamente, como seria o som da sua gargalhada, se ela se preocupa com os as tartarugas no atlântico, sabe como é a rotina dos monges tibetanos, qual sabor do Mentos que ela prefere, se saboreia comida mexicana ou japonesa, se é filha única ou a do meio, se já viu Meia noite em Paris ou qual seria seu beatle favorito, se ela sabe que fica tão linda com um uma saia hippie, se ela sabia da maravilhosa mágia que tinha, parecida com a da seleção brasileira de 82, se ela tem um amor ou já exorcizou a menina para dar um lugar a mulher que habita dentro dela. Vai saber…
Ele não fez nada disso, apenas curtiu esse momento, isso de uma paixão finita, que começou tímido, sincero e apenas com uma troca de energia boa dessas obras do acaso, de que eventos aleatórios podem nem ser tão aleatórios assim, de que nesses momentos, apesar de pensar nela, ele conhece muito mais de si mesmo, de como seria ele com seu próximo amor. E assim foi. Seguindo o caminho a diante.