A MUNICIPALIZAÇÃO DAS MOÇAS DE PILAR

O vereador Landoaldo César andava preocupado com o destino afetivo dos rapazes do município de Pilar, pois as moças da terra do romancista José Lins do Rego só queriam saber de namorar com os rapazes de fora, das cidades circunvizinhas.

Os rapazes, sentindo-se desprestigiados pelas donzelas do lugar e vendo o seu território invadido pelos “play-boys” de Itabaiana, Pedras de Fogo, Sapé e João Pessoa, não perderam tempo e foram se queixar ao vereador mais popular da cidade que prontamente se comprometeu em ajudá-los com uma idéia no mínimo excêntrica: “Tenho a solução para o problema de vocês” (disse Landoaldo), “vou apresentar um Projeto de Lei na Câmara Municipal, criando uma multa para as moças que se casarem com rapazes de outro município”. A rapaziada, eufórica, aplaudiu a brilhante ideia do vereador e combinaram até em fazer uma passeata no dia da sessão, percorrendo a principal avenida da cidade até à frente da Câmara Municipal, conduzindo uma enorme faixa contendo a seguinte frase: “QUEREMOS NOS CASAR COM AS MOÇAS DE PILAR!”

O assunto se espalhou mais rápido do que arroz de um pacote furado em bagageiro de bicicleta, tornando-se o principal assunto dos salões de cabeleireiro, da praça de táxi, dos alunos das escolas estaduais e municipais, e dos idosos que se sentavam de tardezinha nos bancos das praças para prosearem. A polêmica foi tão grande que por pouco Landoaldo César não se tornou uma celebridade nos meios de comunicação da Paraíba e do Brasil. Mas do outro lado do campo de batalha estavam as moças insatisfeitas, sentindo-se ofendidas no seu direito de escolha, e como forma de repúdio a aquela atitude antidemocrática e machista, entrouxavam a cara para o outro lado da rua todas as vezes que passavam pelo distinto vereador.

Um clima de guerra instalou-se em Pilar. Foi quando, preocupado com o desfecho da história, entrou em cena um verdadeiro diplomata, o Pastor Linaldo de Sousa Guerra, secretário municipal da educação, que apelou para o bom senso do nobre parlamentar, mostrando para ele as desvantagens de seguir em frente com aquele projeto que inclusive não tinha nenhum respaldo constitucional o que impossibilitaria a sua aprovação e conseguintemente a sua promulgação.

Landoaldo, com um sorriso de manga madura, surpreendeu a todos dizendo: “preciso do carinho das moças da minha terra...” “Quem manda esses rapazes não saberem conquistá-las?!”

Assim terminou a história da “Municipalização das Moças de Pilar”, que por poço não se tornou em um dos maiores acontecimentos folclóricos da terra de Lins do Rego e do poeta Manoel Xudu.

Antonio Costta

(Pilar – PB)