Um mundo em movimento
Sofisticação nunca combinou comigo. Sempre fui do tipo que prefere o velho pão com mortadela. Resultado? Não sei escrever nada sofisticado demais, fresco demais, formal demais.
Dessa vez vou tocar numa ferida que diariamente incomoda a maioria dos brasileiros desprivilegiados de recursos financeiros para possuir um carro (inclusive a minha pessoa). Como você infelizmente tem que ir trabalhar de qualquer jeito e bicicleta é um pouco complicado pra você, submeta-se então a pegar o bom e velho ônibus.
Sim! Esse mesmo. O nosso amigão buzú.
Imagina você acordando cedo, seis da manhã. Se arruma, toma seu café e sai de casa todo perfumado, arrumadinho, todo bem disposto pra trabalhar.
Tolinho, você não tem a mínima idéia do que é que está esperando você. Como você teve sorte, só teve que esperar 17 minutos e meio para pegar a condução. Mas vale lembrar que durante esses 17 munutos (e meio) você teve que ficar ouvindo o radinho de pilha do vendedor de cafezinho (porque ainda está muito cedo para os vendedores de CD divulgarem seu material), tocando Rede Aleluia (nada contra a Rede Aleluia, mas pô! Nossas convicções religiosas precisam atrapalhar o sossego dos outros?) Isso quando não é o próprio pastor que está pessoalmente pregando a palavra de Deus no ponto.
Mas tudo bem, essa é uma fase superada.
A sua viagem vai começar agora.
Logo antes de você entrar, já percebe que não vai ter lugar para se sentar (ou seja, vai passar a viagem inteira encostado em alguma cadeira, rezando pro filho da mãe que está sentado na cadeira que poderia ser a sua descer no próximo ponto pra você sentar no lugar dele, sem esquecer que o cara em pé do seu lado tá pensando a mesma coisa), mas para não chegar atrasado você entra assim mesmo.
Como você teve sorte outra vez (aproveita que não é todo dia) você consegue sentar. A viagem é longa e entre um cochilo e outro, você descobre o quão desenvolvido é o comercio local. Durante a viagem, uns 3.535 vendedores ambulantes entram no veículo e atrapalham seu soninho para fazer uma propaganda. Você então descobre que para fazer compras, basta ir ao trabalho. Dá para levar de escova de dente à camisolas pra casa sem precisar sair do trajeto para a lida.
Isso quando o cara que entra não é de uma companhia de teatro, tocador de violão ou similar, que parece que entrou ali com o único e exclusivo intuito de incomodar você.
Para finalizar sua deliciosa viagem com chave de ouro, aparece aquele que nunca pode faltar a essas ocasiões: o caçador de assunto. Justamente! Aquele infeliz que começa perguntando as horas e quando você chega ao seu destino, sabe até o número da cueca dele.
Tudo isso no breve período em que você sai de casa para exerceu o ofício diário.
Pena que você tem que descer agora.
Puxa a cordinha, seu ponto é o próximo!