VESPEIRO EM CARNE-VIVA
Não dá pra fugir da própria sombra. Por mais que tentemos camuflar, escamotear, falsear, será esforço inútil. Nossa sombra é o DNA da alma que portamos, a mais legítima versão do que somos e, por vezes, teimamos em negar que somos. Reconhecer suas encostas é delicioso. Aceitar seus bueiros, becos e caminhos tortuosos nos deixa menos pedra e mais humano. Nossa sombra reina ilesa nos confins dos nossos passos, como fiel escudeiro dos nossos medos, sonhos, vontades, tudo mais. Um verdadeiro vespeiro em carne-viva gritando pra todo lado: "Estou vivo, estou aqui!" Nossa sombra é o respingo mais obtuso do que enclausuramos nas vielas mais aflitas do nosso ser, naqueles rincões que portamos, incautos, nos dias que seguimos. Que ela seja capaz, por certo, de sempre nos desacorrentar, nos desmamar e nos levar pra onde bem quisermos, como baluartes reluzentes dos rojões que explodimos quando acertamos mais uma caçapa. Nossa sombra se nutre nos oásis que flertamos nestas andanças desérticas que a solidão nos fazer nascer sempre que, inocentes, impedimos nossos voos de vierem à tona. Que nossas sombras nunca fujam à sua sina de nos fazer lembrar que somos mais que miseráveis andantes sem destino final. Somos criaturas de raça, de fé, de moinhos de luz. E isso só nossa sombra é capaz de escancarar com a indecência que nem Deus imaginaria.
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