Conversando miolo de pote

Fui hoje bater um papo com amigos do sertão, mas fiquei meio jururu porque não pude tomar umas lapadas, nem sequer uma cervejinha e muito mmenos provar dos tira-gostos, vi o sarapatel nos trinques e não toquei nele. Depois de uma gripe forte fui proibido terminantemente de beber e comer o que mais gosto, me fizeram medo e eu resolvi seguir à risca a dieta. Que vou fazer, apenas ver com ôios e lamber com a testa como se diz no sertão.

De forma que fiquei ali como um estranho no ninho, somente ouvindo o bate-papo, mais ouvindo que falando, sem, como dizem os que gostam de fal difícil, sem élan, ou, como digo, sem tesão para acompanhar a alegria dos amigos. Abriram as comportas da saudade e começou o cascatear de lembranças. Um dles que me conhec de criança, dos tempos de menino de calças curtas, lembrou do sofrimento meu e de meus irmãos e irmãs por sermsos filhos de um comunista. Verdade.

Fui - eu e meus irmaos e irmas - vítima o preconceito. Ser filho de comunista no interior, no empo da guerra fria, era algo indescrit[ível. Fazia com que a criana ou o adolescernte fosse evitado como alguém que estivesse com a temida "bexiga preta", que pegava no vento. Um exemplo do preconconceito: na porta da igreja matriz, no centro da cidade, havia aum cartaz que retratava um soldado feroz com uma bota enorme pisando um pobre camponês e abaixo a advertência: ISTO É O COMUNISMO! De forma que esse tipo de prevençãoe preconceito fazia com que alguns pais proibissem seus filhos de brincar ou manter amizade com s filhos dos "assalariados de Moscou" (era assim que rotulavam os comunistas). Na escola, no colégio, em qualquer lugar éramos discriminados, humilhados e ofendidos, inclusive e principalmente pelos religiosos. J´´a adolescente, com uns 15 anos, um irmão meu começou a namorar com uma garota da sua idade, mas quando o pai dela soube, um sueito que era aunha e carne com o chefe político local, proibiu terminantemente o namoroe a mocinha mandou um bilhete rompendo o namoro e explicando que o motivo era porque o pai dele era comunista. Ele guardava esse bilhete, mas depois rasgou, afinal o tempo apaga tudo. Apahga mesmo? A nosaa casa toda vez que havia um rebuliço no país era invadida pela polícia ou pelo exército, a última vez foi em 64.

Na conversa tive que complementar o que alguns não sabiam O preconceito continuou inclusive quando assumi o emprego no Banco do Nordeste, já em Pesqueira, fui denunciado por alguns pilares da "sociedade" queme dedoduraram afirmando que eu poderia ser um perigo para a comunidade porque era filho de comunista fichado. Devido ao gerente do banco que interferiu não fui demitido, mas o preconceito e perseguição continuaram, mais tarde, quando começou o movimento dos índos xukurus pela retomada de suas terras fui denunciado ao banco, à secertaria de seguranaça e ao governo federal (órgçaos de segurança) como alguém que fomentava a revolta dos índios. Só que quem assessorava os índios era o Cimi, um órgão da Igreja Católica, conforme ficou provado em inquérito, eu apenas tinha simpatia pela causa. Que fique claro que nunca baixei a cabeça, sempre fui altivo.

Continuamos conversando, aí entraram ba política atual e depois no futebol. fiquei só ouvindo, até que a roda se desfez e voltei para casa. Com uma certeza: ontem havia muita cisa boa, música, aquele folclore do interior, a vida amena, mas preconceito era muito maior. Acho que só venci esses tabus porque sou um sujeito que não é frouxo. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 25/11/2017
Código do texto: T6182021
Classificação de conteúdo: seguro