NAS ALÇAS BRÍGIAS DO PECADO

Relações humanas são tão firmes e fortes quanto fio de cabelo de bebê. São tão fundamentais quando os sonhos de uma formiga levando um folhinha ao formigueiro. São tão eternas quanto o cuspe de desdém qualquer. São tão assustadoras quanto o voar de uma borboleta. São tão medíocres quanto o gosto do primeiro beijo. São tão absurdas quanto o medo de acordar. São tão soníferas quanto Deus imitando um tenor. São tão afetivas quanto um hipopótamo tirando o pó do criado-mudo. São tão relaxantes quanto um furacão com TPM. São tão espertas quando um débil arlequim querendo se passar pelo feitor. São tão esquisitas quanto tossir no meio do gozo. São tão fantasmagóricas quanto a saudade de algo que nunca partiu nem partirá. São tão avessas quanto descobrir que as pegas que deixamos nunca foram nossas. São tão rebarbadas quanto flagrar ódios num véu abençoado de alguém. São tão quixotescas do que errar o tiro na própria fuça quanto não havia outro desfecho possível. São tão pitorescas quanto encontrar fuligem quando o coração se escancarou só pra sorrir. São tão afrouxadas quanto esperar o rei jogar merda no ventilador e fazer tudo feder como sempre quis. São tão fingidas quanto alguém se travestir de poeta só pra arrebanhar alguns trocados dos passantes. São tão desaquecidas quanto uma quermesse dependurada nas alças brígias do pecado. São tão gosmentas quanto um anão cravando socos num velho desdentado e morto. São tão puerentas quanto as gosmas deliciosas que fogem dos intestinos de todos nós. São tão potentes quanto o eco esgarniçado de uma joaninha decapitada ao luar. São tão atarracadas quanto sonhar e sonhar e sonhar.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 14/11/2017
Reeditado em 14/11/2017
Código do texto: T6171996
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