Um amor cotidiano
Te olho demoradamente e não consigo encontrar um só motivo para não ser o homem mais feliz do mundo. Nossa felicidade não precisa de euforia. Está nos detalhes, em como fazemos a janta ou dormimos abraçados depois de um dia cansativo.
Está no modo como nos programamos para ir ao show do ano, e depois descobrimos que não foi tão bom assim. Ou como vamos, de última hora, assistir a um artista que nem gostamos tanto e depois quase nos convencemos de que aquele foi o melhor show de nossas vidas. Está no modo como rimos sonoramente de casais cafonas que ainda trocam senhas, e nos lembramos, com risadinhas envergonhadas, que também já vivemos essa fase algum tempo atrás.
É incrível como não precisamos de receita quando estamos lado a lado. Somos a receita um do outro. Aquela receita do cardápio que é maravilhosa e que todo mundo quer saber o segredo. Somos felizes mesmo quando as contas estão atrasadas e não temos grana para viajar para aquela cidade dos sonhos. Afinal, somos “gente de humanas que faz um monte de coisas que não dá dinheiro”, e somos felizes assim. Escandalosamente felizes.
Gosto do cheiro da nossa casa. É o nosso arôma que se fundiu. O cheiro das nossas colônias misturadas, do desinfetante erva-doce que a gente escolheu. Gosto do jeito como você me olha quando quer que eu te busque algo, e sempre me divirto sozinho do jeito como eu nego e depois vou buscar. Amo o jeito como você acorda, dengosa, sonolenta e meio confusa. É uma espécie de presente sentir toda a nossa energia logo de manhãzinha.
Amo a nossa plenitude sútil, os nossos feriados etílicos com amigos-irmãos e boa música pra embalar, ou os nossos domingos preguiçosos em que transbordamos de amor em filmes franceses antigos. Nós costumamos transbordar. Do mesmo modo, eu também amo os nossos excessos. Exagerar é bom de vez em quando. Eu amo até as nossas despedidas, quando eu sei que você caminha para a alegria. Mesmo longe de mim, o seu sorriso me traz uma energia que me alimenta. Amo, sobretudo, a sua volta. Nos abraçamos demoradamente como quem corre atrás do prejuízo que a saudade causou, mas um prejuízo que lá no fundo a gente até gosta.
Eu amo cada coisa que a gente compartilha. Músicas, filmes, sentimentos, Tudo. A nossa vida é uma festa permanente, ora musical, ora silenciosa, ora tranqüila, ora agitada. Porque nessa festa, não precisamos de muito para ser feliz.