O sorriso de uma senhora

Lá estava eu sentada na mesa da lanchonete do cursinho...

Eu queria estudar, mas minha mente já estava muito atordoada, tantas coisas para fazer, não sabia nem por onde começar, e ainda tinha a última aula da noite...

Foi difícil sair dali, meus pés pareciam estar cravados no chão, de tanta exaustidão.

Enfim... era preciso ir para a aula. Cheguei atrasada na sala, como de costume, o caminho percorrido da cantina ao pavilhão parecia não ter fim...era o cansaço. Mas, a professora não havia começado a aula...ela também parecia está cansada.

Dia findado, lá fui para o ponto de ônibus, cravar meus pés até encravejar de tanto esperar.

Gritaram mais adiante:

-É vem ele...

Olhei, em direção ao lugar que estavam olhando, vi ao longe- era o buzu.

Entrei, passei a carteirinha, e pela primeira vez, durante todo esse tempo de "buzueira", sentei no banco da frente. Eu não gostava de sentar na frente, pois sempre imaginara que se um dia assaltassem o buzu eu seria a primeira a passar tudo, porque estava logo na frente. Enfim... Mas, hoje eu estava muito cansada, mal conseguia andar. Juro que não é exagero. Coloquei o fone no ouvido para não ouvi o barulho do ônibus, fechei os olhos, quase cochilei, quando senti alguém sentar ao meu lado, abri os olhos rapidamente, era uma senhora, aparentemente muito cansada também, percebi que entrara com um rapaz, o qual estava com a mão enfaixada. Mas, nada eu disse. Ela olhou para mim, deu um sorriso meio de lado com a mão na frente, notei que faltavam alguns dentes em sua boca. Pediu-me desculpas por ter me acordado. Eu respondi que não era nada, ficasse tranquila. Depois dessas primeiras palavras não parou mais de conversar...e falava de um assunto, depois iniciava outro. Confesso para vocês, leitores, adoro prosear, porém foi aí que percebi o quanto eu estava cansada...Passou a viagem toda, e no meio da conversa a senhora disse:

-Menina, num é que tem horas que a gente fala e faz cada uma que só depois de pensar é que vamos ver o quanto fomos ignorantes?!

Fiquei curiosa, e pensei: -Será que ela percebeu pela minha cara, que eu não estava afim de conversar, por isso disse isso?!

Então perguntei:

-Por que a senhora diz isso?

Respondeu, com muita dificuldade, pois suas gargalhadas impediam-na de continuar. Olhou-me concentrada, deu uma pausa e enfim:

-Estava eu na casa de uma conhecida (fui experimentar um vestido que eu havia encomendado a ela, pois é uma costureira de mão cheia, sabe?!), quando no meio da conversa, eu passei o dedo na estante da mulher e... menina...se você visse a situação! Dava para fazer um desenho na estante dela, tava de poeira que cabia num caminhão!!! (deu uma imensa gargalhada)

E continuou...

-Fiquei com tanta vergonha do meu dedo sujo e da cara da mulher, (afinal ela não era tão próxima e eu com essa mania de não parar a mão quieta), acabei ficando sem o vestido, ela disse q eu estava gorda e precisava fazer uns ajustes, (hoje depois de refletir, sei que foi despeito dela), eu não tinha engordado, ela que não gostou do meu dedo na estante dela... Tive que retornar lá depois de dias, a vergonha havia passado, da mesma forma que ela disse que eu havia perdido peso, e o vestido ficara ótimo.

Sorri mais uma vez, conversamos mais, e eu me despedi dela...Desejando que Deus a acompanhasse. Disse-me, então:

-Nunca deixe de sorrir, o seu sorriso pode ser o último motivo para a alegria de um outro alguém.

Ao escrever essas linhas, pensei: Nossa, em meio a uma exaustidão tremenda, aquela senhora, com tamanha simplicidade, conseguiu arrancar um sorriso do meu rosto...e, pensando mais ainda, concluo:

Talvez essa era a sua intenção. Fazer-me sorrir, afinal, naquele instante o meu sorriso trouxe alegria para aquela senhora.

Mas, essas linhas não se encerram aqui, antes de terminar de escrever, recebi uma triste notícia, o ônibus que eu estava sofrera uma batida, todos os passageiros estavam feridos, apenas uma pessoa morrera no momento do acidente. Disseram que ela estava sorrindo...

E... Sorrindo, chorei...

Uma lágrima escorre em meu rosto. Era aquela senhora de sorriso meio de lado e alegria contagiante.

Sua alegria se eternizou nestas linhas, escritas ao vento e espalhadas para toda gente.

...

-Nunca deixe de sorrir, o seu sorriso pode ser o último motivo para a alegria de um outro alguém.

Didimari Santana
Enviado por Didimari Santana em 03/11/2017
Reeditado em 04/11/2017
Código do texto: T6161586
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.