Lavagem inútil de roupa suja

Gosto de ouvir historinhas, anedotas e causos contados pelo povo. A maioria ouço bem cedinho quando vou buscar o pão na padaria. Sei muito bem que a maioria é inventada, pura ficção, mentira, mas o que me fascina é que quase todas apesar de hilárias possuem um fundo moral. É o povo é no fundo, no fundo mesmo, moralista, até nas anedotas e causos.

Hoje ouvi uma que pode não se enquadrar no politicamente correto (como é chata essa onda na medida que poda a criatividade), mas que encerra uma verdade abissal, no seio das famílias há permanente uma necessidade de uma sessão de lavagem de roupa suja. Juro.

Vamos à historinha. Um sujeito contou que uma certa família estava reunida assistindo tevê, o marido, a esposa e uma filha de dezenove anos, sem nnhum papo, entediados e só curtindo a novela para esquecer as divergências entre eles, o tédio, as raivas... Então, de repente, entrou a filha caçula aos prantos, completamente desnorteada e desesperada e foi logo disparando para a mãe:

- Não sou mais virgem. Sou uma vaca!

Imaginem a surpresa, constrangimento, susto e desespero de todos. Ficaram num surto tremendo. O pai foi quem mais se aperreou e, claro, foi logo ao ponto culpando a esposa:-

- Tá vendo, a culpa é sua que vive vestida de puta, se mostrando na porta aos machos e na rua, querendo ser nova, rebolando e dando trela aos homens que encontra, sua sem-vergonha, toda íntada, parecendo mesmo uma puta.

Mas não se contentou apenas em culpar a mulher pelo sucedido à caçula, olhou para a filha mais velha, a de 19 anos, que estava de shortinho esperando o namorado e mandou brasa:

- Você tamabém é culpada, sua escrota, vive aí no divã se lambendo com aquele seu namorado que parece até que é fresco, uns nojentos dando péssimo exemplo à irmã.

A esposa com raiva resolveu também entrar na operação lavagem de roupa suja e disparou enraivecida:

- O culpado é você, não se faça de santo, que gasta metade do salário mincho com as raparigas, seu velho safado. E depois foi tentar acalmar a caçiula, colocou-a no colo e disse com ternura:

- Se acalme, minha filha, e conte o que aconteceu:

A menina ainda em prantos se acalmou um pouco e esclareceu o assunto:

- Mãe, não sou mais a Virgem no drama do Natal da escola, a professora botou a Isabel, eu vou ser agora uma vaquinha.

Voltou a paz ao lar, todos se acalmaram e se arrependeram da inútil lavagem de roupa suja, sem se dar conta que são suas mentes e talvez modo vida que julgam antes de saber os fatos. São ás raivas latentes que não são expelidas em tempo que formam o clim de ódio e ressentimento. A historinha sem dúvida é fictícia mas quantas não aparecem verdadeiras no nosso cotidiano. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 29/10/2017
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