Manifesto aos dias ruins
Ficasse menos tempo nessas de sentir a própria dor e tivesse deixado de carregar pensamentos de um domingo que já se foi faz cinco dias, talvez tudo estivesse bastante diferente de muito triste. Mas não.
Tudo é muito triste.
Porque as convicções que sigo e as crenças em que me apoio dizem que eu devo querer a profundidade de cada alma, mas sem mergulhar, sem molhar os cabelos para não mostrar as imperfeições de um couro já nem tão cabeludo, sem deixar água que bate pelo corpo derramar pelos cantos. Me mantenho na superfície. Digo que tenho muito pouco, mas que quero muito, no entanto, quero ganhar tudo sem nunca perder ou sequer me entregar para aquilo que chamam vida, ou aquilo que chamam sentimento.
O maior egoísmo das últimas oito semanas foi me descobrir sentado numa cadeira em plena melancolia, refletindo sobre sentimentos passados e futuros e me entender saudoso em relação ao caminho da paixão. Aquela coisa de frio na barriga, de sair todos os dias com a pessoa, um dia após o outro e sem cansar. Querendo mais, inclusive. Querendo muito mais muito depressa para depois querer muito menos mais depressa ainda. Perdendo a graça e o gosto que o amor e outras boas sensações que a vida trás. E talvez seja esse o ponto de reflexão: o exato momento em que racionalizo o não-mergulhar com o resultado dos mergulhos. Afinal, entrar na água implica dar fortes braçadas para sair dela.
E fortes braçadas cansam o corpo por mais algumas tantas e boas sádicas semanas de tristeza inconsistente. A tristeza faz parte da gente, e isso nos mostra uma força que até então não sabiamos que existia.
E aí, eu me vejo querendo ser arrebatado por uma onda gigante para em seguida me punir por estar querendo algo pelo qual não estou disposto a nadar e nem molhar o pé.