O velho e a prisão

Ele acorda sem pressa. Ele não tem afazeres, não há ninguém esperando por ele, tampouco alguém lembra de sua existência.

Ele levanta, risca a parede, se senta em um canto e observa a luz do sol que entra pela sua janela, projetando a luz e a sombra das barras na parede, iluminando inúmeros riscos na parede, dos incontáveis dias que passara ali. Ele olha para o lado, vê uma pequena poça de água suja que reflete um rosto velho, triste, olhos como buracos negros, sem brilho, sem esperança.

Da janela o velho prisioneiro vê o mar, pode sentir a brisa, vê as gaivotas voando, ouve o som das ondas quebrando, tudo tão perto e ao mesmo tempo inalcançável. A vista da liberdade tão perto e tão distante o tortura dia após dia.

Um novo dia se inicia, o velho acorda sem pressa. Ele não tem lazer, não tem amigos esperando por ele, tampouco ele mesmo lembra de sua própria existência.

Ele levanta, risca a parede e percebe algo diferente. Uma pequena rachadura, do chão ao teto, que faz brilhar uma centelha de esperança em seu coração; eis que a velha parede também tem seu ponto fraco.

Com sua colher ele começa a escavar a parede abrindo uma fenda, ele escava dia e noite, escava até suas mãos sangrarem, por dias e meses.

O homem vence a parede, ele está livre de sua prisão, ele corre para o mar e se joga na água, ele grita na imensidão o brado de sua liberdade. Ele percorre a praia e chega ao mesmo ponto de onde saiu. No mar nenhum barco, no céu nenhum avião, no horizonte nenhum sinal de outra porção de terra, nenhum sinal de civilização.

O velho acorda sem pressa, com a areia e o mar por sua companhia, com a brisa da praia lhe trazendo uma amarga notícia:

O velho homem, em sua ilha deserta, continua em uma prisão...