com o dedo no nariz
sobe a brigadeiro com o dedo enfiado no nariz.
loira (quase loira, é uma cor antiga, um castanho acobreado) os cabelos francamente oleosos, escorridos, repartidos ao meio.
na cara grande angulosa destaca-se o nariz, com o dedo indicador da mão direita enfiado nele.
- cinco mangos como vai limpar no cabelo, diz o velhote, aposentado, 42 anos de labuta no serviço público, sabe-se lá qual, mas do serviço público; a testa brilhando ao sol de quase primavera, outono mais quente que o normal, mas devemos nos acostumar, e agradecer, tudo.
- limpa na calça! limpa na calça!! rebate o chaveiro, que termina os serviços rapidamente para apostar o dia inteiro com o velhote, ou com qualquer outro que se disponha a apostar sobre qualquer coisa: a cor do próximo carro da fiat, se a placa do parque dom pedro tem final par ou impar, se a velha vai tropeçar na guia, quantas camisas do corinthians passam em dez minutos, se alguém vai chegar atrasado e dar com a porta fechada do cartório, quantos minutos o churrasqueiro demora para acender o fogo, se o menino solta da mão da mãe ao atravessar a rua, se a morena levanta a calça ao parar no ponto de ônibus, se o balconista vai trazer a cerveja assim que eles sentarem, antes mesmo de pedir, e muitos etc.O imponderável atrai muita gente, fornece adrenalina e muitas outras inas, na primavera, verão outono, inverno e etc. Porque sem o imponderável tudo é tão óbvio, que não vale uma aposta.
- limpa na calça!!! balbucia naquela torcida.
Os dois estão sentados bicando a cerveja, lá vem loira de cabelo escorrido com o dedo no nariz,,,
Bem na frente deles, aquela torcida, ela tira o dedo do nariz, arrisca, e enfia o dedo, com a caca, direto na boca.
O empate não serve a ninguém, mas sabe como é:quem não arrisca, não petisca.