Não gosto de chuva fina...

Não gosto de Chuva fina

Valdir Cremasco

Não gosto de chuva fina, principalmente as chuvas finas de verão, prefiro as tempestades, aquelas que provocam medo, com relâmpagos e trovoadas. Aquelas que fazem os cachorros uivarem e correrem para debaixo da cama, que fazem as vovós acenderem velas, cobrirem os espelhos todos da casa e tirar da tomada tudo que estiver ligado. Essas chuvas são rápidas e o medo passa quando elas vão embora deixando para traz, às vezes rastros de destruição, mais um clarão no azul do céu, provocado pelos raios do rei sol que reaparece majestoso e pela beleza do arco íris que ninguém sabe onde começa e muito menos onde termina.

A chuva fina de verão me deixa entristecido.

Daqui do meu canto, quando procuro um encanto para minha inspiração, que anda um tanto de mim distante, escuto a chuva fina que cai neste começo de noite, batendo na vidraça e escorrendo devagarzinho, como se fossem lágrimas. Lágrimas de um grande amor que anda perambulando por ai, em alguma esquina, em alguma cidade, em outro mundo, em outra esfera, sei lá, por ai caminhando talvez sem rumo, talvez, como eu em busca do seu amor.

Lembra-me ainda um filme assistido em tempos idos, Dr. Jivago. Vejo-o com o nariz grudado na vidraça do trem ou ônibus banhada pela chuva fina que escorria tal qual lágrima, olhando a multidão que caminha, com seus olhos entristecidos e esperançosos na expectativa de reencontrar o seu grande amor, Lara. Ele vê Lara caminhando entre a multidão e tenta agarra-la pela vidraça e cai morto fulminado pelo infarto. Literalmente ele vê a sua vida que era o amor de Lara, escapar-lhe por entre os dedos. Assisti a esse filme na minha juventude e aprendi com ele o quanto é dolorido a perda de um grande amor, o quanto machuca o coração, o quanto nosso coração fica quebrado em pedaços esparramados pelo chão. Aprendi na juventude e não esperava passar pela mesma situação.

Colei meu nariz na vidraça banhada pelas lágrimas do céu e olhei o meu mundo inserido no quintal de minha casa, na expectativa de ver o meu amor caminhando através dele. Qual nada, povoou minha mente e coração, lembranças e nada mais. Ah! Se eu a visse por certo também seria fulminado pelo infarto. Disso não irei morrer, se bem que, como diz a canção, meu coração me prometeu “que ainda iria morrer de amor” enquanto ele não cumpre a sua promessa, minhas lágrimas o banham com chuva de saudade.

Por isso que gosto de tempestades. Elas formam enxurrada que leva e lava tudo que encontra pela frente.

A chuva lá fora cessou, ainda não cessou a chuva aqui dentro do peito. É que dos muitos ensinamentos que o meu amor me deu, ele se esqueceu de um, o de me ensinar a esquecê-lo. Assim vou caminhando e não sei por quanto tempo, só sei que ainda me resta a esperança que me faz crer: ainda vou reencontrá-lo.