PONTO FINAL
PONTO FINAL
Ao sair da sala de redação do jornal, após longo dia de trabalho, dou uns vinte passos e cai, a meus pés, uma linda lua em miniatura, redonda, prateada e com ranhuras. Demorei alguns segundos para perceber o perigo eminente a minha frente. Num impulso, provocado pelo instinto natural de preservação, peguei o objeto, ainda me parecendo lunar, de acordo com a primeira impressão, dado seu aspecto e como havia caído do céu, peguei-o e joguei para longe.
A explosão deu-se a uns cinquenta metros do local, onde eu, aturdido, havia me jogado por terra. Foi o que me salvou no momento. Levantei e segui em direção ao hotel, lugar que imaginei um porto seguro.
Chegando ao destino traçado, deparo-me com um bolo de cimento, recheado de aerados pedaços de madeira com cobertura cinza escura mesclada de preto. Como arremate final, sobressaindo ao arranjo, um braço humano engessado para o alto.
O companheiro cinegrafista, meus documentários, artigos, fotos. Tudo, mais uma fatia da tragédia. Nenhum socorro, nada, tudo ermo e em silêncio. Sem opção, volto ao edifício do periódico que se mantinha inteiro, mas os papéis estavam espalhados por todos os cantos e alguns voando pela janela. A palavra impressa não tinha mais significado.
Os correspondentes tentavam, em vão, comunicar-se com seus países de origem.
Após algum tempo, computadores e celulares ficaram também mudos. Os humanos voltavam à condição primitiva. Ainda restava-nos a linguagem, aprimorada ao longo do tempo, mas que, no momento, eram apenas sons guturais de desespero.
Podíamos contar, ainda com a palavra escrita, recurso que todos utilizavam para expressar seus pensamentos e memórias da circunstância, os quais pudessem utilizar mais tarde, já que viviam do jornalismo e quanto mais insólita a narrativa, mais caro poderiam cobrar das grandes redes midiáticas. Alguns idealistas, como considero meu caso, apaixonados pela profissão, pensavam apenas fazer o registro histórico,
Enquanto isso, ouvia-se pequenos satélites prateados explodirem por todo lado e sóis vermelhos brotarem da terra.
Em determinado momento, percebemos algo grandioso aproximar-se vindo em direção ao nosso prédio, que deveria ser território neutro, pertencia a ONU, último reduto de paz no mundo.
Acabei de escrever meu último pensamento: “ Hoje, assisti e participei do derradeiro dia de vida humana sobre a Terra, exterminada por incompreensão religiosa, conflitos raciais, ganância no manejo das riquezas naturais entre as nações, negligência com o meio ambiente em favor de poder e dinheiro numa súbita, violenta e estrondosa explosão de corpos e cérebros. A palavra, sepultada nos escombros, emitiu os últimos gemidos, perdeu o poder. Aguardo o ponto final.”