CIGARRO DE PALHA

Na beira do canto direito do terreiro,

Seu Joaquim Firmino seguia o ritual permanente para fabricar seu cigarro de palha.

Palha molinha, bem suave do interior da espiga de milho.

Fumo de rolo, fumo bom, fumo cheiroso, fumo umedecido pelo mel das tranças.

Canivete afiado, antigo, com folha larga e sem ponta e com cabo dourado.

De cócoras no canto do terreiro, com calça presa nas barras com embira,

Sinto por fora dos passadouros,

Camisa abotoada de cima para baixo, ficando os botões da barra fora das casas.

Chapéu de palha amassado na cabeça e um bigodinho mal aparado.

Uma surdez impressionante e um vocabulário extremamente reduzido.

Assim era seu Joaquim Firmino.

Todas as sextas feiras no final da tarde trazia bananas maduras para serem vendidas por dúzias.

Mamãe comprava para fazer tortas, virados de bananas com queijo e fritas para saboreá-las com farinha de milho.

Enquanto mamãe escolhia as pencas de bananas,

Seu Joaquim Firmino ia manipulando a palha e fabricando o cigarro.

Uma esfregada com as costas do canivete na palha para deixa-la bem macia.

Com a palha por entre os dedos, segurando o pedaço de fumo com o dedão e o indicador da mão esquerda, ele tirava fatias bem finas de fumo com o canivete bem afiado e ia esparramando o fumo fatiado na palma da mão.

Com o dedão amassava bem o fumo picotado e esparramava na palha macia.

Quebra a ponta da palha e com um isqueiro movido a querosene incendiava o charuto feito de palha de milho.

Longas fumaçadas, cuspidas no chão, ajeitamento das cinzas com a unha do dedão da mão.

Prozas curtas sobre a qualidade e o preço da dúzia de bananas.

Em meio ao cheiro e à fumaça do cigarro de palha, mamãe comprava dez dúzias de bananas e convidava seu Joaquim para tomar um café.

Café gostoso, café com leite, pão caseiro e uma acendida de novo no cigarro amado.

Cigarro de palha!

Cheiro de fumo!

Lá vem seu Joaquim Firmino.

Bananas maduras à vista!

E isso aí!

Acácio Nunes