Zé Migué e a lei do retorno

Mais uma dos Zés do Brasil. E sempre em primeiro lugar em conversa pra boi dormir, temos o famoso Zé Migué. Possuidor de um currículo invejável, primeiro lugar na teoria da enrolatibilidade com o causo ″blá blá blá″, primeiro lugar no torneio; ″ Vai mentir prum surdo″ . Tri campeão no disputadíssimo título; dar nó em pingo d’água e esconder as pontas. Já seu maior orgulho é a obra: conversa sem pé nem cabeça. Obra esta composta por muitos ″causos″. Quando perguntado de onde vem tanta baboseira, respondeu sem pestanejar: ...do meu ídolo, Victor Lutig¹, pra quem não sabe esse gênio vendeu a Torre Eiffel...

Um famoso ″causo″ do Zé Migué é o ″tiro no pé″. A história do feitiço que virou contra o feiticeiro.

O Zé Migué conheceu o ″Doutor das Ervas″. Um chinês de nome estranho, She Humsé Teum, até aqui nada de mais, nomes chineses soam esquisitos. E o Doutor dizia curar tudo com chás. Espinhela caída, bico de papagaio, mau olhado, dor de cotovelo, até gato engasgado ele dava um jeito.

O chinês amassava o picão (dito como uma praga na região), jogava um açúcar por cima dizendo que era mel e passava o picão em tudo e em todos. Até o Zé Migué entrou na do chinês. Tinha um carro muito bom, mas o motor ″tava feio″ e She Humsé Teum deu um jeito. ″Tacou″ serragem de picão no escape do Zé Migué, cobrou o ″Zóio″ da cara, anoiteceu e não amanheceu.

Uma semana depois o motor fumou, a dor de cotovelo piorou, o bico de papagaio envergou, o chinês se safou e o Zé Migué se ferrou.

A sabedoria popular diz algo assim: pra todo malandro há o malandro e meio.

Há na política brasileira muitos Zé Migués enrolando, trapaceando, fazendo mal a população. E um dia esse mal todo volta contra quem o praticou. Jesus pregava²: ″ quem semeia ventos colhe tempestades″. Na ação de retorno, o mal ou o bem voltam, muitas vezes, com cargas revigoradas. Note-se como se reproduzem as sementes; de uma que se plante nascem dezenas ou centenas; é a lei do retorno de uma ação. A Sagrada Escritura diz: pai perdoe-os, estes não sabem o que fazem. A doutrina Budista menciona ser necessário perdoar os atos destes, assim aprenderemos a conviver com o ″inimigo″ e não cometermos os mesmos absurdos que eles fazem.

As doutrinas, somadas a sabedoria popular dizem algo muito próximo; ″ o bem sempre vence no final, se não venceu é porque não estamos no final ″. O mal quer tudo para si, o bem quer tudo para todos.

Muitos escândalos hoje na política brasileira lembram o impedimento sofrido por Collor de Mello, e PC Farias a época foi julgado culpado. A lei do retorno cobrou deste um alto preço, sua vida. O bem sempre no final.

Zés Migué do Brasil, a arte imita a vida, ou a vida imita a arte? Não sabemos, mas a lei do retorno é esta. Um dia ela volta, trazendo consigo tudo aquilo que você fez por merecer aos outros.

Paulo Cesar