O espírito corrompido
Era o filho do meio, fruto de uma gravidez indesejada. Hoje se apresenta como Abu Hajia, mora na Síria, mas especificamente no território do Estado Islâmico. Mas alguns anos atrás era conhecido como Samy, morava no subúrbio de Paris, numa cidade chamada Drancy.
Como todo jovem daquela idade ele também tinha os seus sonhos, mas a realidade não era compatível com os seus planos, filho de imigrantes, ele vivia a margem da sociedade.
Seu pai Mohamed Amimour foi por muito tempo a sua principal referência familiar, percorreu quilômetros na travessia migratória para conquistar a liberdade e fugir da guerra civil. Sempre fez o impossível para melhorar o padrão de vida da família, considerado abaixo da média.
Tinha dois empregos, e fazia horários extras quase todos os dias, quando chegava em casa no fim da noite ainda tinha tempo de contar histórias da época em que lutava pela sobrevivência, contra o terrorismo, a fome e a pobreza. Curioso, o seu filho o observava com atenção.
Trabalhava na linha local de ônibus do subúrbio, não era o que ele queria, mas ajudava no sustento da família. Tinha alguns colegas, que não considerava mais que isso, até porque nunca foi uma pessoa sociável, que gostava de interagir e criar laços. Na verdade, sempre foi tido como um rapaz tímido, o que não sabiam porém, era que lhe faltava interesse.
Nas horas que estava no controle daquele volante enferrujado percebia ao redor que o mundo era desigual, as pessoas não respeitavam as leis e os valores, não tinham a fé em uma religião, eram descrentes.
Ainda nos dias de hoje carrega o costume de ler o Alcorão todos os dias, o livro sagrado do Islã. Os muçulmanos creem que o Alcorão é a palavra literal de Deus revelada pelo profeta Maomé. Nas horas livres fazia pesquisas na internet sobre o califado do Estado Islâmico, e de certa forma se viu intimado e escolhido a fazer parte dessa ideologia extremista.
Os contatos eram feitos por redes sociais, criou uma conta anônima no twitter e começou a seguir vários indivíduos relacionadas ao El, no dia seguinte já tinha acumulado 5 mil seguidores, foi algo muito rápido e tentador.
Hoje ele se encontra no Estado Islâmico, com outros jovens de várias partes do mundo dispostos a dar a vida pela fidelidade religiosa. Faz parte da guerrilha dos jihadistas, que em árabe significa “esforço” ou “luta”, e só usam de violência para a restauração da lei de Deus na terra para defender a comunidade muçulmana.
Considera-se pronto para alcançar a vida santa, e seguir o que é pregado, mesmo que isso lhe custe a vida. Não é fanatismo, é fé! Amanhã ele viaja para o próximo local do ataque terrorista, a opressora Paris. Escreveu uma carta para dizer que está bem, e que esse seria o seu último depoimento antes de conquistar a pureza eterna.