Morte
Ao longo da existência, digamos no processo de adquirir maturidade, nos tornamos conscientes da morte, do fato que as pessoas que conhecemos e amamos morrem; e do fato que algum dia nós também morreremos. Contudo, nossa cultura judaico-cristã não nos facilita essa tomada de consciência, para todos os efeitos somos imortais, a morte é evento fortuito que atinge apenas os outros. Enquanto isso, de modo que entendemos apenas escassamente, se é que entendemos alguma coisa, abraçamos identidades e a ilusão de auto-suficiência. Chamamos de busca da felicidade os caminhos que adotamos e os rumos que seguimos e que preenchem nossos sonhos, metas e anseios. Buscamos atividades, tanto construtivas como negativas, com as quais esperamos nos elevar acima dos fatos da vida comum e que talvez permaneçam depois que nos tivermos extinguido. Fazemos isso num esforço desesperado contra a certeza de que a morte é nosso destino final. Muitos buscam o poder e a riqueza, outros, o amor romântico, a fama, o prazer, o sexo, ou as conquistas esportivas: sou o mais forte, o mais rápido, o mais sábio, o melhor. Para quase todos, suas obras e feitos durante a vida lhes garantem reconhecimento e boas lembranças depois de mortos. Quer sejamos bem-sucedidos ou fracassemos, de qualquer modo vamos morrer, todos teremos o mesmo fim. O único consolo, certamente, é acreditar que, já que fomos criados, deve haver um criador que gosta de nós e o qual nos receberá quando morrermos. As religiões, de um modo geral, tentam explicar que morte não é contrário de vida, é um rito de passagem, uma espécie de portal daqui para lá, e que o fim da matéria significa o início da vida eterna a qual realmente interessa; do início de um ciclo eterno de bem aventurança, de prazer elevadíssimo e sem limites. Desse modo, a inevitabilidade da morte é amenizada já que depois dela nos espera algo melhor, assim, o viver, ainda que extremamente doloroso para alguns, torna-se apenas a passagem, a via de acesso para a verdadeira glória que é vida após a morte. Eufemismo que suaviza a irrevogabilidade da MORTE eterna, esta sim inquestionável e definitiva.
Jair Lopes
Enviado por Jair Lopes em 02/08/2017
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