Pelé, Maradona, Che, Lennon ou Poesia em 9 toques

Pelé, Maradona, Che, Lennon ou Poesia em 9 toques

Mesmo perna de pau, pereba ou qualquer outra denominação, eu adorava futebol quando era criança e adolescente. Na garagem, no pátio, no salão, no campo, em qualquer lugar. Porém, às vezes, pela chuva, pelo frio, pelo calor excessivo, pelas altas horas da noite ou pela preguiça, não dava para jogar.

Assim, ia para o videogame. International Superstar Soccer ou sua versão pirata “Campeonato Brasileiro 96” no Super Nintendo eram os títulos preferidos. Porém, muitas vezes, não dava para acomodar mais meia dúzia no meu quarto de conjunto habitacional na Fazenda Botafogo, subúrbio do Rio. Logo, nada como uma mesa de botão para os embates continuarem.

Goleiro feito a partir de caixa de fósforo devidamente encapado. Botões grandes atrás e pequenos na frente. Talco e parafina para deslizar. Baliza de plástico remanescente dos chamados botões panelinha ou de madeira. Bolinha quadrada, o sonho do Quico. Regra de toque livre, pode chutar de qualquer lugar, partida de 3 ou de 5. Quem ganha fica. Ou então fazia-se uma tabela numa folha de caderno mesmo, quem sabe com o luxo de contar com cronômetro e até duas mesas. Não tinha troféu, mas alguns trocados como prêmio e alguns botões rejeitados pelos rivais.

Aí o tempo passa. Vem o ensino médio, estágio, faculdade, primeiro emprego, namorada, mulher, filhos. Vida adulta. Os botões se perdem na casa dos pais, alguns vão parar no lixo ou nos brinquedos das crianças, filhos ou sobrinhos. Só que um dia, numa conversa aleatória no trabalho, você descobre mais alguns com a paixão em comum. Vai a uma feira de antiguidades e vê barracas vendendo botões, antigos e novos. Você resolve voltar a jogar.

Não dá para ser o goleiro improvisado nem o de madeira. Melhor um de chumbo. O seu antigo beque, na verdade, é menor do que um atacante atual. Seu botões pequenos, artilheiros, são quase do tamanho de um dadinho. Melhor encomendar um novo time, quem sabe com a verba oriunda da venda desses craques do passado – não de todos, ok. Antes, o botão tinha as cores o time ou da seleção, quem sabe com um escudo discreto gravado ou com um adesivo colado. Hoje, você encomenda uma equipe personalizada, feita carinhosamente à mão. Surgem no mesmo time:

Falcão

Pelé

Garrincha

Maradona

Você mesmo

John Lennon

Che Guevara

Harry Potter

Sr Madruga

Superman

Quem-você-quiser

Time que foi campeão carioca, brasileiro, sulamericano, europeu, mundial, paulista, africano, asiático, argentino ou da esquina mesmo.

Tabelas antes imaginadas nos sonhos, quem sabe construídas no videogame, agora estão pertinho, diante de seus olhos e com a sua palheta, de plástico, celuloide, pvc ou seja lá o que for. Sem contar aquela narração ou aquela frase célebre o seu narrador preferido de futebol que pode virar poesia ou um meme, desde um “acabou, acabou, é tetraaaa!” ou “hoje não, hoje não, hoje sim, hoje sim...”. Agora, você pode ser jogador, técnico, dirigente e locutor também.

Imagine, é fácil se você tentar. Maradona volta voando da intermediária até a defesa, pega o dadinho raspando e já se coloca de frente para o ataque, dois, três e já passa para Falcão que no 4 e no 5 já está atacando quase na meia-lua do adversário, aí manda para Che que no 6 fuzila, mas o goleiro defende e cai logo para Pelé que tem três para definir, chuta, no travessão, o dadinho cai, gira, gira e está lá!Você pode dizer que sou um sonhador, mas não sou o único. Espero que um dia você se junte a nós.