Descansem em paz, geraldinos e arquibaldos

Descansem em paz, geraldinos e arquibaldos

Em 2013, logo após o jogo Itália vs México pela Copa das Confederações, escrevi um texto sobre as minhas impressões a respeito do então novo Maracanã. Saí de lá tão triste com o que vi e senti que batizei a crônica como "RIP Maracanã" (link ao final do parágrafo). Dias depois, em Espanha vs Tahiti, pela mesma competição, parte da má impressão passou, tamanha foi a experiência vivida.

(http://www.recantodasletras.com.br/artigos/4363202)

Era óbvio que a Espanha não teria maiores dificuldades para vencer o Tahiti. Foi com toda a equipe reserva. Ao longo de toda a partida, a torcida, de forma irreverente, praticou um bullying do bem, incentivando a todo momento a equipe da Oceania, como quem torce para o time da sexta série jogando contra o pessoal do ensino médio. Mesmo assim, 10 a 0 para a Fúria.

Apesar de torcer para o Tahiti, os presentes não hostilizaram em momento algum a Espanha. Muito pelo contrário, aplaudiram e comemoraram cada gol feito. Porém, no finalzinho do jogo, todo mundo pareceu esquecer a brincadeira. De repente, um tahitiano parte da intermediária em velocidade com a bola dominada. A torcida se levanta na expectativa. Uma pena que Reina, o goleiro na Espanha, não entrou na brincadeira e defendeu. Tivesse deixado passar, seria talvez o herói do dia.

Ao final dos 90 minutos, o time inteiro do Tahiti foi ao centro do campo agradecer o apoio e carinho da torcidade brasileira. Como bem disse Tadeu Schimdt no Fantástico, “um pacto de amizade para sempre com a torcida carioca”. Com episódios assim, achava-se que o Maracanã voltaria com tudo para o coração dos cariocas, mas não é o que vem acontecendo.

Olha que governo e prefeitura tentaram. Houve a interdição polêmica do Engenhão para obrigar os clubes a fecharem com o consórcio que administraria o Maracanã. No entanto, se os cariocas já sentiam falta da geral, imagina agora sem a branca e sem a verde ou a amarela? Estádio lotado? Só na parte de trás, onde é mais barato – ou menos caro. Um ano depois, nenhum jogo do Brasil na Copa por lá. Fecha estádio antes das Olimpíadas, vem uma abertura linda numa festa com a cara do Brasil, mas o povo mesmo fica de fora estacionando os carros. Vem o ouro inédito, mas aí depois o Maraca fica fechado por sabe-se lá quantos meses. Flamengo, Fluminense e Botafogo procuram outras opções, indo para a pouco acessível Ilha ou o longínquo Edson Passos.

O Maracanã reabre, mas é caro abrir o estádio para jogar. O Botafogo volta para o Engenhão. O Flamengo adota a Ilha, mesmo com arquibancadas de madeira. O Fluminense vai das Laranjeiras para Edson Passos. Nem a seleção consegue jogar lá. Segundo a CBF, custo operacional muito alto, melhor jogar no Estádio do Palmeiras com nome de empresa estrangeira. Brasil e Chile, última partida das eliminatórias, será lá.

Existe um motivo para tudo isso. Fizeram um estádio com uma estrutura cara de operar e manter? Sim. No entanto, nessas horas, cairia muito bem o jeitinho brasileiro no padrão fifa e tudo ficaria bem. Na verdade, o que pesa mesmo é a tendência atual de mercantilizar as paixões. Como diria Bauman, são as relações líquidas. Não sabe? Joga no Google. Isso fica claro num item do contrato de concessão do estádio, ou arena, "mudança no perfil do público". Não pode nem mais levar foguetes e bandeiras.

Descansem em paz, geraldinos e arquibaldos.