A imagem
Mergulhamos na mais hipócrita relação com a sociedade. Aprofundamo-nos na relação de nossos interesses. Mas não podemos deixar de mostrar que somos solícitos às necessidades da comunidade ou do país. Precisamos dizer que estamos comovidos com os infortúnios do vizinho, mesmo que não levantemos um dedo para mudar o atual panorama. Fazemos expressões de dó, de consternação, mas não passa disso. Os interesses familiares se sobrepõem aos demais. Lamento, mas já estou atrasado.
Nas redes sociais é o terreno das compensações. Digo o que não sou. Vendo a imagem de que pertence ao seleto grupo dos santos. Pesquiso as melhores imagens, onde não deixe dúvida que além de religioso, tenho as melhores intenções de salvar o mundo. Acabo de fazer-me “santo”. Faço a apologia do bem, mesmo que entre em choque com a índole perversa do mau humor e do meu rancor. Dou a volta por cima, e engano o meu rancor cáustico transmitindo a imagem do anjo salvando a criança e sugerindo que a repassem para outros amigos.
Apoiados na premissa que só os bons se salvarão, evita-se vender a alma para o diabo de maneira explicita. Dá-se um toque de magia nos enfeites das palavras e criamos uma áurea que circunda maravilhosamente o contorno das cabeças. A imagem da hipocrisia acabou de ser construída. Para os outros estou apto a subir o pedestal e acenar como a melhor pessoa do planeta terra. Ufa, enganei todo mundo. Mas e a minha consciência?
Tenho coisas mais importantes que olhar do que para a minha consciência. Consciência? Logo agora; eu não tenho tempo para pensar nessas coisas. Estou muito ocupado. “Que Deus olhe por você, bom dia!”. “Ore e peça a Deus que ajude o próximo”, pois no momento eu não tenho nem tempo de pensar. Ainda faltam vinte itens para cumprir da minha agenda. Hoje não vai dar. Amanhã, não sei. O dia seguinte chegou. A sua agenda não se cumpriu. Ele morreu.