Ante-sala
Parabéns! Você foi aprovado no concurso público e nomeado para trabalhar aqui. Que sensação! O telegrama com a convocação para o serviço foi o momento de maior satisfação da sua vida. Sem dúvida alguma. Amanhã você começa.
A recepcionista indica a salinha de espera para a sua entrevista de admissão. Andando até o espaço matizado em tons tranquilos de verde, as intensas pulsações do seu coração até vão diminuindo o ritmo. Calma. Respira. É só uma conversa prévia com a futura chefe. Você
diz para si que “vai dar tudo certo”.
A cadeira que a moça lhe indica tem um assento fofo e quentinho, como se alguém recém tivesse se levantado dali. O espaldar é alto, com o tal encaixe anatômico, e os braços estão na altura exata dos seus cotovelos. Admirável trabalho de engenharia ergonômica. Mas a cadeira tem uma rodinha pela metade.
Que frio ficou aqui, e esse barulhão agora? Vem dali do alto o ruído grave e contínuo. É um aparelho de ar-condicionado, amarelado e com a palheta da esquerda quebrada. Está remendado com fita. Sabe-se lá há quanto tempo está assim.
No salão logo adiante da porta de vidro, chama a atenção a simetria das mesas de trabalho, distribuídas ao longo das duas paredes compridas. Cada mesa com o seu computador, equipamentos padronizados. Mas, olhando bem… monitores de tubo, cabos sujos, talvez material antigo. Ainda assim, você se diz que “vai ser bom”.
Sobre as mesas, uma variedade de papéis, canetas, relatórios, porta-retratos, um ou outro vasinho de violetas. Há quem diga que são indicadores da personalidade de seus ocupantes. Este colega aqui cola uns adesivos em volta do visor. Aquela colega eleva a tela com uns livros - que mau uso para eles! - Ah, não são livros... Puxa! Ainda existem listas telefônicas.
Uma, duas, três… são doze, doze futuros colegas. Quem sabe doze novos amigos? Talvez gente com uma trajetória como a sua, concurseiros. Pessoas de sucesso. Ou teimosia. Longos períodos sem amigos, sem vida social, apenas os livros e o objetivo. Mas você
insiste que “vai valer a pena”.
De repente, o ar se enche de uma aura de energia, impulso e agilidade que envolve o ambiente e traz de volta as pulsações rápidas do seu coração. É a colega copeira que transporta o escuro líquido sagrado dos escritórios até a área mais importante da repartição - a mesa do cafezinho.
Nesse instante, a rapidez, a eficiência e a lucidez retomam na sua mente o lugar em que estavam a insistiam nas questões que você tentava afirmar respostas… “Vai dar tudo certo? Vai ser bom? Vai valer a pena?” A saída é recorrer ao café - forte, quentinho, adoçado, o
melhor amigo da mente reflexiva. Só ele poderá ajudar na decisão mais importante da sua vida… “Amanhã você começa?”
Aline Vieira Malanovicz - 21/07/2017