Biografia de Um Pai

Desculpe, irei desmentir tudo que já disse até agora, tenho que desmentir, tenho que desmentir... Não posso depreciar o momento com palavras mentirosas.

Qualificar uma vida que por si só se configura destemperada e opaca, é por muitas vezes difícil. E aceitar que não se é grande coisa, quando se sonha em conquistar o mundo é angustiante.

Meus pais fizeram por mim o que qualquer pai faria por um filho que se ama mais que se a si mesmo. O resultado? Um homem... A vida fez de mim o que meus pais não puderam fazer... E se os pais são os professores amigos a vida se torna o inquisidor cruel e executor de penalidades.

E quando a vida não marca nem o próprio vivente?

Martin Luther King Jr. disse certa vez que o que preocupa não é o grito dos maus e sim o silêncio dos bons, talvez pelo fato dos bons sofrerem em silêncio...

Naquele momento, ao cair da noite, quando a lagrima deslizou pelo meu rosto e encheu minha boca de sabor lembrei-me por que estava ali. Naquela noite, quando a vontade de desistir da vida tomou-me o peito, quando o fracasso bateu-me a porta, os olhos de minhas filhas me feriam... Descobrir que chorar não paga as contas, chorar não enche despensa, chorar não calça, chorar não veste. Naquele momento descobri por que homem não chora... Por que chorar não adianta, chorar não leva o homem à frente, chorar não o faz tentar novamente. Naquele dia, naquele sofá, afogado no escuro, tentando desesperadamente me esconder do mundo, a antiga imagem dos olhos de minha mãe cheios de lagrimas por não ter como calçar-me me nutriu de forças, o cheiro de borracha quente que impregnava as mãos e roupas de meu pai me esbofeteou o rosto e me disse: “Levanta, engole o choro. Homem não chora!

No momento em que de bom grado escreveria palavras como: "... “Saio da vida para entrar na história.” (Getúlio Vargas) O horror de desistir e a insistência de meus olhos em contemplarem o de Cinthya me cravavam na vida.

"Fiz de mim o que não soube, e o que podia fazer de mim não o fiz..." (Fernando Pessoa). Não sei se não sou nada, mas uma coisa sei que não sou, ninguém... e ninguém vai me dizer que é impossível ser alguém, ninguém vai matar meus sonhos, ninguém vai se por na frente, ninguém vai pisar em mim, mas também não irei pisar em ninguém. Ninguém me deverá coisa alguma, como também a ninguém deverei. Ninguém me dirá que não posso fazer o que quero fazer. (A procura da Felicidade) e um dia o filho se tornará o pai e o pai se tornara o filho (Supermam O retorno). E me olharão sentindo o peito repleto de orgulho e dirão "É meu pai!". Assim como o hoje digo o mesmo. E se os fantasmas nunca desaparecerem... Me acostumarei com eles, os olharei nos olhos, pois cada dia, cada instante que meus filhos miram seus belos sorrisos em minha direção sei que cada instante do meu fôlego, cada gota do meu sangue gasto por eles vale a pena.