Vasco x Flamengo
Com qualquer resultado a confusão seria a mesma – falando do jogo de ontem. De preferência com óbitos, a ocorrência cotidiana e fundamental de nossos dias. Em qualquer filme de ação – às vezes até os que não –, na TV ou no cinema, aparece alguém dando ou levando porrada, sendo morto a tiros ou facadas, sendo torturado ou torturando, incêndios, carros batendo ou capotando... Se não for assim, não será um filme “bom”. Nossos heróis não são apenas os das lutas marciais, mas os da robótica, dotados de modernas armas tecnológicas, preparados para a dizimação rápida do inimigo, pessoas isoladas ou comunidades inteiras.
Com as torcidas, seja Vasco x Flamengo, São Paulo x Palmeiras ou qualquer delas, dá-se o mesmo. Algo assim como o imaginário coletivo. O embate está automaticamente programado. Se não acontecer, será uma frustração. Então, o resultado do jogo pouco importa. Sem falar no fato de que as torcidas “organizadas” podem, em muitos casos, ser preparadas exatamente para isso. Como podem também ser usadas para a eleição ou reeleição de um candidato à presidência do clube. As torcidas “organizadas” são também remuneradas. Financiam-se suas viagens a outros estados.
De qualquer modo, o estereótipo é um componente básico nesses acontecimentos. Do mesmo modo que pode acontecer com os adeptos do “Fora Temer” ou “Fora Lula”. Confrontos que podem evoluir de uma discussão amena entre amigos para disputas corporais, que necessariamente ocorrerão entre grupos oponentes mais numerosos. Ou até entre amigos. Já vimos isso também no que se refere a grupos religiosos, não faltando imagens de santos sendo chutadas por aqueles contrários a esse tipo de culto.
No caso individual, é possível que o autopoliciamento desse resultado. No sentido de fazermos com que respeitássemos o direito do oponente, ou do próximo, pela sua preferência. No caso coletivo, certamente não será tão simples. Porque implica em se trabalhar com a remoção do estereótipo. Talvez pudéssemos falar (ainda que de brincadeirinha) numa “Faculdade de Estudos Ético-morais-urbanos”, destinada ao ensino em massa da valorização da conduta social dos cidadãos. Com o traço comum, em todas as cadeiras do curso, do respeito mútuo entre as pessoas pelas suas escolhas em qualquer nível, inclusive no dos Desportos.
Maricá, 08/07/2017