praça da liberdade
Proibido de fumar faz sete meses. Tanto faz o diagnóstico.
Antes descia no ponto final, sentava na praça, ficava ali, mas as pessoas começaram a puxar papo:
- Será que vai esfriar?
- O ônibus já passou?
- Essa corrupção acabou com o país.
Agora desce dois pontos antes, no alto da ladeira, um ou outro aparece ali, ninguém ousou lhe dirigir a palavra.
Senta e fuma. Quatro maços por dia.Não faz gracinhas com a fumaça. Fuma e solta a fumaça.Tem os olhos caídos, a pele esgarçada, vincos fundos na face, os dedos e os bigodes amarelados. Três isqueiros no bolso. Fuma quatro maços por dia, toma três cafés pretos e curtos. Não tem prazer em comer; come um bife e deixa a salada.
Não lê jornal, não ouve rádio, não vê TV.
Quando escurece volta pra casa. Na cama fuma um cigarro e dorme. Profundamente.
Não sabe se vai voltar amanhã.
A noite sonha. Sonha que fuma um cigarro sentado na praça e que ninguém puxa papo com ele.