E agora?

Mas não há escapatória; apesar de ser tão explicito, foi dessa vez que eu soube, quando já estava dentro daquilo que recusava viver novamente, por pensar que evitando tais coisas, me livraria de um processo desgastante, que, dependendo do grau arruína a cabeça do indivíduo, fazendo-o lidar com algo que fica assim que, perde-se o que se tem. É de praxe saber que a única coisa que se dispõe a favor daqueles que permanecem nesse ciclo é o tempo, e, ele parece não ajudar quando se tem pressa, assim como pareceu das outras vezes quando caminhei a procura de abrigo, e é esse mesmo tempo que me resgatará de novo colocando-me para andar nas duras ruas até que a tonalidade do cinza se esvai, dando lugar a algo mais vivo. Quanto a isso eu não posso resistir, posso tentar pular essa etapa, contudo, a convicção de conseguir é nula... quero estar aqui de novo, só assim sei que sobrevivi da forma correta. Mas, nessas voltas infindáveis sinto que uma pequena parte de mim vai embora, se descola, talvez nem seja minha, grudou-se em mim na primeira oportunidade, sem perceber me acostumei, e agora se desgarrou, dando espaço para me sentir completa novamente, como sempre estive, todavia, a estranheza é maior quando nos sentimos sós com nós mesmo sem algo exterior, bate à porta a solidão... e, quanto a essa parte que ficou solta por aí, quero voltar para buscá-la, enganando-me com o meu propósito de permanecer no antes. Pensei que dessa vez fosse como da outra, estava pronta para ouvir Maria Bethânia, que foi o modo que aprendi sofrer; mas dessa vez é o Caetano que fica afirmando que: “ Saudade até que é bom, melhor que caminhar vazio”. Depois disso, ou junto das músicas vinha a vontade de beber algo, e sair por aí curtindo o que eu tinha naquele momento, aquele engasgo na garganta, que nem com o maior dos tapas te recompõe, aquele grito sem som, aquela culpa amarga. Mas até nossa forma de sofrer muda sem que a gente perceba. Da próxima vez não sei o que estarei fazendo com o que fica, qual forma de consolo me agarrarei, se estarei desesperada questionando o porquê disso, ou quais as músicas que terei conhecido até lá, se eu pensar muito talvez até adivinho o que estarei fazendo, com certeza não, há sempre outras formas inimagináveis de se restar no após, aguardo conhecer a próxima assim que essa se for.

Anny Ferraz
Enviado por Anny Ferraz em 03/06/2017
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