POR QUE A CORRUPÇÃO VICIA TANTO E DÁ PRAZER?
POR QUE A CORRUPÇÃO VICIA E DÁ PRAZER?
Por: JOSÉ JOAQUIM SANTOS SILVA
Como uma droga, desde a Inconfidência Mineira, Derrama e outros movimentos mais contra esse vírus, a corrupção nos dias de hoje vicia e dá prazer, e o “tratamento” possível — a punição — não garante que o problema será resolvido, segundo profissionais de psicanálise, psiquiatria e ciência política, que se debruçam sobre a questão.
“A sensação de poder tudo é muito excitante, produz o maior barato que existe. Imagine um orgasmo que durasse para sempre”, diz a psicanalista Marion Minerbo, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. “Essa sensação maravilhosa vicia, quer dizer, ela pode se tornar necessária para a manutenção do equilíbrio psíquico dessas pessoas. Se perderem esse barato, ou mesmo se se sentirem ameaçadas de perder esse barato, podem se deprimir seriamente ou surtar.”
Posso perceber em visão micro que a corrupção é “um vício, um modo de vida” adotado por pessoas com “um vazio muito profundo” em seu sentimento de existência.
Pessoas que sempre pensam levar vantagem em tudo que se possa imaginar.
Lembre-se, até um lugar que você guardar na fila de um supermercado para alguém de carrinho cheio na frente de uma pessoa com apenas dois pacotes, é corrupção.
Nas filas das madrugadas comprar senhas nas mãos de sacizeiros para obter atalhos, sem dúvida é outro exemplo de corrupção.
Até idosos que não tem juízo, se fazendo valer o seu direito das filas para idosos, enchem suas mãos com contas e jogos de terceiros atrasando a vida de todo mundo.
Isso também é corrupção porque aquele idoso inocente, na realidade está ganhando a "pontinha" dele para fazer esse serviço sujo.
Enquanto você está apenas com uma conta de luz ou boleto de algum banco nas mãos perto de pagar, o cara está lá com centenas de volantes da mega não sei o que lá, ou centenas de contas alheias também a pagar. E você se irrita mas ninguém diz nada....
“Ele (o corrupto) tenta obter o maior número de coisas, de poder, de bens, o maior número possível para saciar um vazio na sua existência que ele nunca consegue saciar”, explica.
“Punição inibe até certo ponto”
Na esfera pública nacional, este vício é satisfeito pela oportunidade. Segundo a cientista política Rita Biason, do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Corrupção da Unesp, a falta de controle é o maior incentivo para um corrupto.
“O indivíduo que tem a possibilidade de obter algum ganho fácil com a utilização de recursos públicos irá fazê-lo”, afirma. “O que temos são as duas extremidades: mecanismos de prevenção, como comitês e leis, e uma obsessão pela punição, como se ela fosse resolver. Só que a punição é um inibidor até certo ponto.”
De acordo com Rita, a corrupção aparece em um ciclo complicado, no qual um político depende de dinheiro para atender eleitores, se reeleger e continuar dentro do esquema.
“Quando eu entro [no esquema], de alguma forma eu acabo participando, e não acho que haja inocentes”, diz. “Não acho que seja uma escolha individual. É uma onda que te empurra e o mecanismo político que obriga a entrar. Se você está fora, você está fora do jogo.”
Um mal incurável
Seja pela compulsão, seja pela falta de freios, os especialistas ouvidos pelo UOL dizem que a corrupção é um problema impossível de ser solucionado, mas pode ser contido.
“A corrupção não acaba. Ela vai ser controlada. Esse controle depende dos dispositivos que temos para mantê-la sob controle”, reforça Rita Biason.
Segundo Portela, não se pode falar em cura. Um forte “choque moral”, diz o psiquiatra, pode conter o corrupto por certo tempo. Mas, como um dependente químico, ele pode sucumbir diante do contato com a “droga”.
A corrupção não acaba. Ela vai ser controlada. Esse controle depende dos dispositivos
A psicanalista Marion Minerbo, por sua vez, afirma que não é possível falar em tratamento para uma pessoa corrupta porque o fenômeno depende de fatores individuais, interpessoais e culturais.
“Mas é possível falar em ‘tratamento’, com aspas, se considerarmos os fatores interpessoais e culturais. A impunidade é o fator interpessoal que cria a cultura que confirma ao indivíduo que ele pode ser/ter tudo. Já a aplicação justa da lei é o fator interpessoal que desconstrói essa cultura. É possível — mas nada garante — que, uma vez punido, comece a sentir emocionalmente que, como todo mundo, infelizmente, ele não pode tudo. Poderíamos então falar em ‘cura’.”
JOSÉ JOAQUIM SANTOS SILVA
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