Asas no Escuro
Sentada no chão da sala, sozinha, olhando para as paredes cinzas sem pudor (paredes que tudo conheciam), ouvindo tudo, sem dizer nada.
O silêncio fazia-se ruidoso para Ela, que mesmo acostumada a distinguir no escuro e a viver assim, sentiu algo diferente. Ela sabia de sua peculiar forma de vida, levava em si a certeza de que havia mais, que existia além. Ela que sentia tudo distinto, a sinestesia habitava seus sentidos, tudo tão aguçado, e intenso, que nem ela compreendia.
Fazia uma noite doce, dominada por um frescor acetinado, Ela sentiu algo tão intenso, como se o avesso a governasse, e a liberdade de sua alma transpusesse seu corpo. Asas surgiram em suas costas, talvez já existissem, ou estivessem ocultas por toda sua vida existida até ali. Asas longas e fortes tomaram forma...ela já não poderia evitar de voar.