AMOR PARA RECORDAR

O fascínio pela música e pela literatura e, especialmente, pela teledramaturgia, conduziu-me pelos caminhos da escrita. Sou alguém muito sensível. Gosto de boa companhia para conversar, rir e me divertir. Adoro poesia, sentimentos à flor da pele, serenata ao luar e músicas que falam de amor. Certos livros, certas cenas de finais de novela e de filmes, certos personagens e acordes tocam-me tão profundamente que me levam às lágrimas com facilidade. Sou do tipo que sente saudade, chora pelo que teve, pelo que não teve e muitas vezes perde o sono... mas adora sentir tudo isso intensamente. Sou romântica! Irremediavelmente romântica.

Sou da geração que enxergou no homem sensível e bonito o rótulo de príncipe encantado. Era ainda criança, tinha oito ou nove anos, quando senti meu coração bater mais forte. Meu primeiro amor nunca me viu e nem nunca soube de minha existência. Todo romântico gosta de sonhos, de melodramas e de amores impossíveis; e vive com a cabeça cheia de fantasias. Quando me apaixonei pelo Sidney Magal, decidi que se um dia eu me casasse, teria que ser com alguém que tivesse sua altura, sua cútis e suas fuças; sem tirar nem por. Levei essa fantasia até a adolescência. De repente assisti a um filme chamado “Talvez Algum Dia”. O protagonista chamava-se Michael. Era um garotão de cabelos aloirados, cacheados, nariz bem perfilado, olhos intensos, boca pedindo beijo; enfim. Pronto! Meu ideal romântico passou a ser loiro, do tipo escandinavo. E a cada filme, a cada novela, uma paixão diferente. Como eu sonhava e como fantasiava!

Quando o Menudo apareceu na TV, meu coração se dividiu em cinco e me apaixonei loucamente pelos porto riquenhos. Essa febre de adolescência custou a baixar. Justamente nessa época, descobri uns livrinhos de bolso que mexiam com as cabeças e os corações das moçoilas sonhadoras. Nove entre dez mulheres que têm mais de quatro décadas de existência já se entregaram a estes livrinhos que abordavam os relacionamentos de uma forma poética e gostosa. Tudo que uma moçoila romântica precisa é de enredos tipo água com açúcar, com desencontros, lágrimas, e, claro, um final feliz. Aquelas delícias literárias, censuradas por algumas mães e pelas professoras mais conservadoras (lembrei do puxão de orelha que levei da professora Vilma Abreu), tinham tramas envolventes e capas encantadoras que só tinham jovens de beleza incomum. Eram moças de cabelos negros com olhos de pantera, loiras de cabelos compridos e com olhos muito azuis, homens altos, charmosos e de olhares sedutores; todos lindos de viver!

Fui leitora assídua das “Sabrinas”, “Julias’ e “Biancas”. Nem preciso dizer o quanto isso influenciou minhas atitudes e pensamentos. Sonhei demais e vivi muito pouco a realidade.

Esperei por muito tempo um príncipe encantado montado num cavalo branco. Até que, ao final da adolescência, deixei de gostar dos meninos com carinhas de anjos e passei a venerar as belezas maduras. Só não perdi a mania de sonhar, mas esses sonhos de agora eu canalizo para minhas personagens. Só espero poder um dia, ter fãs que se encantem com histórias bonitas e doces. Acredito que ainda existam alguns raros corações sonhadores e sensíveis.

Por: Márcia Haidê

Abril/2017