O QUE FIZEMOS DO MUNDO
Hoje chegou a notícia das árvores. Antigamente, elas se inclinavam tocadas pelos ventos, e trocavam segredos, quando as folhas se tocavam rapidamente. No solo denso e umbroso, as raízes se entrelaçavam, sensuais e amorosas, falando de tempos ainda mais antigos, quando o homem era só um sonho distante.
E assim as mais novas ficaram sabendo da decepção das árvores de tempos arcaicos, em princípio ansiosas com a chegada daquele bípede implume, glabro como algumas delas, altaneiro como elas.
Irmão! diziam umas às outras, pressurosas, os galhos em movimentos harmônicos, as folhas em sustenido menor, à espera do ser que já amavam.
E o homem chegou, e viveu entre elas algum tempo. Elas, tolos vegetais, estimavam que assim fosse; tentavam protegê-los das tempestades, amainavam os ventos furiosos com seus poderosos braços a fim de que o homem, ele, não sofresse nenhum dano, eis que tão frágil se demonstrava e elas o sabiam assim.
Mas chegou o dia em que os homens viram os campos além e os desejaram. Dos galhos da última árvore desceram ao chão e desapareceram no horizonte, sem um voltar de olhos. eles retornarão um dia! disseram-se esperançosas. E aguardaram, e um dia muitas eras depois, o homem retornou.
Mas as árvores não mais os reconheceram. Vinham cobertos ou montados em animais estranhos e barulhentos. Cheiravam a fogo e fumaça, que os animais expeliam por canos longos e compridos, galhos fétidos e apodrecidos.
Mas o horror então teve início: vários pares de homens adentraram a mata e deram início à matança. Cada dupla portava uma longa lâmina de dentes pontiagudos que brilhavam ao sol, e essas lâminas logos foram postas a morder o lenho. Rapidamente as árvores, uma a uma foram tombando, e lançavam cada uma delas, um gemido final de pavor e medo enquanto caiam.
Aquilo em nada alterava o ritmo macabro dos homens. Logo a floresta tornou-se um vasto e devastado espaço, onde outros animais dirigidos pelos homens recolhiam os troncos dizimados.
E assim foi, que as árvores acabaram e os bichos todos morreram. No solo nada mais medrava, pois a chuva há muito havia parado de cair. Não haviam nuvens, pois a evaporação cessara por falta do que evaporar. E desse modo chegou o dia em que a fome foi tanta que se transformou em loucura e a loucura da fome fez com que os homens se entredevorassem. E a Lua, indiferente. iluminou o planeta morto.