Os meninos eternos
Era uma vez uma menina chamada Nicotina e um garoto chamado Álcool. Eram evitados. Nunca eram chamados para as festinhas de aniversário de seus amiguinhos. Mas muitos dos mais velhos ou pais de seus amiguinhos gostavam de secretamente tê-los por perto. Numa relação que podia ser, inclusive, pedófila. Que horror! Mas que seria intransigentemente negada pelos mais velhos. Da mesma forma que todos os políticos negam com veemência as acusações de desvio de dinheiro público que tenham cometido. Ou de verbas indevidas que seus partidos tenham recebido.
Nicotina e Álcool, a princípio, na sua inocência de meninos, não entendiam porque eram evitados por um lado e admitidos por outro. O contato maior com os adolescentes, que os recebiam praticamente sem restrições, foi o que acelerou a perda da inocência. Os adolescentes, os que sabiam "todos os segredos e pecados do mundo", os que podiam explicar tudo. Os velhos não sabiam nada.
Por essa época, tinham um verdadeiro pavor em transitar por onde houvesse qualquer templo religioso – igrejas de quaisquer credos, sinagogas, mesquitas, etc. –, à exceção de terreiros de umbanda ou candomblé. Sabiam, contudo, que seriam bem recebidos em qualquer aldeia indígena. Época em que tiveram consciência também de que seriam tolerados nos banheiros dos aviões. Depois, nem isso.
Mas que porra é essa? Esses garotos não crescem?
Cresceram e tornaram-se eternos, ao perceberam que a sociedade não poderia prescindir da presença deles, apesar da tola tentativa de os tornarem para sempre banidos do meio social.
Rio, 09/03/2017