A Magia do Fogo [1]
Dançam e confraternizam no espaço do Grande Salão. Todos de branco esvoaçante: o que nós somos? Tetos de vidro e mesas com panos brancos e talheres de prata. Levarei copos sujos ao lugar escondido, procuro pelo trem que me levará ao destino. Perseguem-me antes que eu deixe o salão e perco-me na penumbra dos corredores e na escuridão das salas inabitadas. Travo lutas com meus perseguidores. Após escapar, ando por sobre o canteiro onde enterram os abortados. Corpinhos cheios de terra. Há algo de macabro e frágil e delicado nessa sensação. É rosado, é suave, e tem um leve perfume doce de podridão. Perturba-me. Não posso aguentar. Na sala, deitada com vários espectadores, olho o motivo da atenção. Ao mesmo tempo ouço risos de crianças e consigo ver as três, no teto de vidro, a olhar para mim. Então, elas fogem, correndo. Medo e afeição tomam conta de mim. Aquelas crianças, mesmo que não sejam crianças, encantaram-me.