Pássaros proibidos!
Continuamos a ver cenas impressionantes de prisões de pessoas, quase ontem, insuspeitas, tidas como probas e vitoriosas em seus negócios. Como dizem de Eike Batista ser, a cara do Capitalismo brasileiro, ao lado deste, há outras caras nem tão parecidas com a dele. Pássaros são animais de diversas espécies. Há os cobiçados pela beleza física e outros pelo canto.
Criaturas aladas, como pássaros proibidos de terem suas liberdades, campeando naturalmente como deveria ser. É assim como se apresentam. Entram na gaiola aberta da Justiça Federal no dia a dia do país. Pena que a porta dessa gaiola permaneça semi aberta e eles nem necessitem voar: são retirados dela e postos em seus ninhos domésticos. Às vezes, o que sobra, é apenas uma tornozeleira surdo-muda, cara aos cofres do Erário,e nada mais.
Fico a pensar quem seria mais culpado: o empresário que so consegue vencer uma licitação se oferecer propina a membros do governo, ou se o governo sacana que exige cinicamente que o processo aconteça naturalmente, como se para roubar não fosse interessante saber voar, ter asas ou cantar como um sabiá livre. O que fazem, ambos, é a feiura imprópria dos míseros executores dos maus negócios, da anti Democracia, da banda podre do Capitalismo. Por quê? Em nome do quê?
Sinceramente, não suporto assistir a prisão de um homem culto e viajado como Eike Batista. Dá-me uma tristeza insustentável. Sinto vontade de sentar-me ao longo de um dia inteiro e fazer-lhe as mais pertinentes perguntas sobretudo o que ele viu e aceitou participar, mesmo que sendo sua única chance de vencer. Errou. Não precisamos ir a tão longe para conhecermos a glória da vitória lícita.
É preciso ter-se amor à vida e aos negócios que a vida nos proporciona. Há os que enchem o peito de alegria ao vê-lo dentro da gaiola, misturados a outros muito desnivelados em todos os sentidos. Ele começou a perder o brilho adquirido durante sua estadia na Europa, assim que adentrou na gaiola dos, nem tão presos,pássaros desalados. Este homem carrega na alma uma invejável bagagem cultural.
Uma família se desintegra. Um homem inteligente se despedaça e corre o risco de adquirir valores pouco nobres com o novo convívio. Confesso que me emocionei com sua viagem solitária e triste, no voo de volta da América para uma mísera prisão brasileira. Que pena!
Tomara que Eike Batista não poupe ninguém em seus depoimentos. Ele deve ter favorecido, ilicitamente, Presidentes e Ministros. Muitos não dormirão sabendo que uma delação fiel de Eike, derrubará um eixo enorme cheio de outros pardais barulhentos.
Que venham mais. O Congresso Nacional é um grande viveiro desses pássaros famintos, indecentes, imprestáveis. Precisamos engaiolar cada um dos criminosos que ainda estão cantando à sombra das grandes palmeiras brasilienses. Mas, fechar as gaiolas é condição indispensável. Ponham esses pássaros para trabalhar.Precisam, para saber o valor do salário mínimo para um pai de família que jamais terá asas para alçar grandes voos. Falo de vôos lícitos.
O melhor pedido de desculpas de cada um será o cumprimento de suas penas. Quem perdoa é Deus. A lei ajusta os pecados terrenos às convenções humanas da convivência. A infalibilidade da justiça ainda deve ser mostrada como conhecimento justo. A imparcialidade, sabemos, não é verbo conjugado racionalmente. Da mente e da alma de juízes, nem sempre sabemos o que sairá como resposta ao canto de um pássaro pertencente a um bando como este que temos visto.
Coitada da República. Continuam realizando,embora que de modo diferente, mais sofisticado, os mesmos erros que Dom João VI cometeu quando éramos uma Colônia de Portugal. Os nobilíssimos títulos vendidos aleatoriamente para cobrirem as despesas excessivas da Corte que era mais portuguesa do que brasileira.
Pouco mais de meio milênio de vida e o Brasil continua a ser o habitat de pássaros que pararam de encantar com seus cantos, para nos envergonhar com seus atos. Cortem-lhes, pois, suas asas, trancafiem-nos em gaiolas com portas fechadas e ponham-nos para trabalhar sem poderem abrir seus bicos, e muito menos cantar. Seus cantos não nos são mais agradáveis.