Inventário das Desgraças do Brasil

Faltam a nossa elite conservadora o amor e a honra do imperador mexicano que aprendeu a amar de tal forma a terra estrangeira lhe dada, que preferiu a honra de morrer do que viver longe de sua providência.

Faltam aos nossos liberais a inteligência e ímpeto combativo de Dom Pedro I, ao fundar o Império Brasileiro e ainda salvaguardar a Portugal a Monarquia Constitucional.

Faltam a nossa esquerda a integridade e articulação de um Zapata. A sua intelectualidade acadêmica a coragem e profundidade de um Gramisci.

Faltam aos nossos índios o espírito de Gerônimo e Touro Sentado. Nos faz falta o espírito aguerrido das multidões dos Tupinambás a se revoltarem contra os portugueses.

Faltam aos nosso negros a liderança de um Ganga Zumba ou de um Zumbi, a oferecer a uma resistência de quase um século aos tenazes bandeirantes. Ou mesmo um Martir Luther King Jr chocado contra a morte de jovens negros no Brasil.

Faltam a nossa polícia militar o patriotismo dos nossos expedicionários na Segunda Guerra, um patriotismo que a levaria a combater a corrupção nas suas fileiras e reconhecer que o inimigo não é seu próprio povo.

Faltam aos nossos religiosos o carisma e honestidade com os pobres de Antônio Conselheiro. Falta ao nossos líderes religiosos a agudeza intelectual de espírito do padre Antônio Vieira a abençoar as armas morais do Brasil contra as da escória que nos insiste a nos rebaixar a eterno terceiro mundo.

Faltam às mulheres uma intelectual como Simone de Bevoir e uma revolucionária como Rosa Luxemburg.

Faltam aos brancos, heterossexuais e machões um John Lennon a cantar seu facinio sem vergonha pela Ioko Ono. Que sejam homens pelo amor que mostrem a sua mulher e não pela arma que carregue na cintura ou pelos berros pelos quais acredita impor seu pretenso direito sobre os demais.

Faltam aos gays um Cazuza, um Renato Russo e um Ney Matogrosso que rebole e desmunheque combativamente diante de qualquer tentativa de lhes tirar direitos e de lhes inferiorizarem.

Faltam a nossa direita um intelectual como Edmond Burke e um articulador como o general Golbery.

Faltam aos nossos pobres a firmeza moral do exemplo de Cristo, dos trabalhadores na praça de Greve e dos cangaceiros a lutarem contra a fome. Mas sobra vitimismo e conformidade

Faltam aos nossos ricos a inteligência e erudição dos franceses, mas sobra o patético consumismo de quemse gaba de ter ido Disney duas vezes este ano e aprendeu inglês num cursinho super maneiro.

Faltam a esquerda um Mariguela, um Luiz Carlos Prestes, um Florestan Fernandes e sobram Lindenbergs Farias

Faltam a centro-direita um conciliador como Teotônio Vilela e sobram Aécios Neves.

Faltam aos nossos conservadores um José Bonifácio. Aos nossos juristas um Rui Barbosa. Aos nossos escritores um Machado de Assis. Aos nossos músicos um Villa-Lobos. Aos nossos pintores um Cândido Portinari. Nos falta um Aleijadinho e nos sobra Romero Britos.

Faltam aos nossos empresários a independência e ousadia de um Barão de Mauá e sobram Eikes Batistas de todos os tamanhos.

Os nossos fascistas não tem um artista como Fillipo Marinet capaz de transformar ideias constrangidas a sua forma imediatamente sensorial e artística como no futurismo.

A esquerda não tem um Caetano Veloso e um Gilberto Gil com um tropicalismo que a emancipe de bordões soviéticos de quase 100 anos atrás. Capaz de nos libertar para a construção de algo próprio, mas sem vergonha de importar e integrar o que vem de fora.

Faltam aos nossos alunos o amor pelo descoberta e pela inteligência e sobra apego a vaidade e aos modismos. Enquanto for mais comum encontrarmos mais celulares do que livros nas mãos dos nossos jovens não teremos educação de qualidade nem futuro promissor.

Faltam aos nossos sindicatos o arrojo de um Solidariedade Polonês e sobre peleguismo e vida boa sustentada pelo imposto sindical independente de quanto lutem por seus trabalhadores.

Nos falta um Ulisses Guimarães mas nos sobram Eduardos Cunhas, Felipes Maias e Renans Calheiros.

O que temos?

Bacharéis metidos a liberais que acham que sabe governar um país como o Brasil. Um demagogo que vendeu a alma para elite cujos os privilégios vendia para o povo que iria combater. Burocratas altamente treinados que acreditam estar a altura de ministrar a justiça ao país.

Revolucionários que travam guerras com palavras de ordem ou agem como se a Guerra Fria não tivesse acabado.

Religiosos demagogos sem compromisso com a liderança espiritual do seu povo, vendidos e escravos de fortunas.

Reacionário de frases prontas e orelhas de livro.

Um povo idiotizado com Rede Globo e entorpecido com conversada fiada de pastor, carnaval, cerveja ruim, bunda e futebol.

* Talvez tenham faltado mais alguma, não por imparcialidade minha, mas por esquecimento ignorância da minha parte. Mas acredito que aí estão mais que o necessário para derrubar nosso país.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 01/02/2017
Código do texto: T5899848
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