CORAÇÃO DESTERRADO
Meu coração transformou-se numa rosa adornada por espinhos enormes, donde os sentimentos somem, não encostam, correm... Já foi, em tempos hedonistas, um jardim encantador, ilustravam-se acima do sol dos seus girassóis, borboletas de todas as idades, e de todas as cores.
Meu coração, quando começou a falhar os húmus que tanto geravam vidas, transformou-se no genocida de todas as guerras combatidas e travadas; onde fora campo para batalha de mouros, orientais e europeus, hoje, sucumbe aos desmandos plebeus. O que de fato suportou esse meu coração o tanto de golpes das espadas, flechas e floretes foi saber que eu não sabia, ainda, qual era o singular segredo da vida.
Acordar todos os dias, apressadamente, passar um pouco de água no rosto somente, vestir a roupa que lhe venha a calhar, aquela que esteja mais próxima e sair correndo para o trabalho; e lá, na morte antecipada dos segundos, vai prevendo a falência dos minutos e o funeral futuro das horas, para que o demasiado outrora fique para trás, e na precisão imprescindível daquilo que ninguém percebe, vão se encaixando perfeitamente todos os ciclos pré existentes que contemplam o círculo do tempo, voltando tudo novamente para trás.
E assim emulam-se os dias, com o mesmo coração abalado, mais sentimentos dos espinhos feridos, os contornos intrínsecos da cronologia do tempo, como cupim, vão destruindo, paulatinamente, o fio que faz vibrar esse coração desterrado. E dessa retórica barroca e sofista o que busco simplesmente da vida é sua singular ideia minimalista - a flor gêmea que se abre pela manhã para todos as pessoas, e se fecha durante a noite, uns pelo descanso do desjejum, outros pelo descanso da Morte.