Súbito instante

Sou uma ânsia, me limitarei assim. Prossigo inquieta em atividades que ontem consegui exercer sem muito esforço, agora falho. Ânsia que me faz querer um recuo de viver o momento seguinte, o instante que me é dado, e que dele tenho tão pouca certeza se acontecerá, se me acontecerei, e não peço que ele volte, e sim que fique onde deve estar, me deixe viver o novo, me renascer no que me é dado e tirado de repente, eu preciso embebedar de mim mesma, esbanjar no meu próprio eu, para entender por que estou perdida. Escrevo agora por ser a única coisa que me resta, e não por gostar, escrevo por medo desse instante que agora me é, e agora já não é mais, escrevo para me salvar, espero que as palavras me venham, me resgatem... É que para as palavras me aconteceram preciso ir no meu próprio inferno, e tirar essas mãos que agarram o meu pescoço que me faz ter medo de viver, temo a vida mais do que temo a morte, eu preciso me soltar urgentemente, e de súbito encarar o próximo instante, onde quero encontrar em mim mesma uma alegria submersa, que achei que a encontraria no instante passado, em que nada tive certeza, e sei que não o viverei nunca mais. E continuarei nessa busca inalcançável por mim mesma, reencarnação do meu próprio instante, que às vezes acho que encontro, e acabo perdendo, ou esquecendo a ilusão que me baseio para encarar o próximo instante desconhecido, apenas sou. Sou esse enigma que me resta, só ele me interessa, e só por ele me refaço, me busco, me canso, eu o procuro, como algo que está à mercê do seu próprio encontro, mas que o evita, a vida não me garante nada, nem as minhas incertezas eu posso me agarrar, sou o meu próprio medo, e é dele que corro, e o amo, sou capaz de amá-lo afim de que ele me mostre o caminho para que eu volte a ser inteiramente eu. Mas, não quero ver minha face, quero apenas ser, como o instante agora que nada vi, mas aconteceu, na sua própria incompreensão se foi, e dele eu nada guardei, mas foi a coisa mais preciosa que tive, que na sua perda também me perderia, me agarro, ele me foi dado - agradeço. E, eu agora o deixo escapar, me deixo ser, e enquanto os instantes me forem dados estarei viva, e da vida levarei a minha própria confusão, agora sou capaz até de cantar.

Anny Ferraz
Enviado por Anny Ferraz em 23/01/2017
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