Uma viagem no tempo
Mil novecentos e sessenta e cinco. Trabalhadores com uniformes azuis se movimentavam a pé por ruas empoeiradas. Armazéns. O Armazém do fulano. O açougue. O açougue do fulano. O trem. A 800 ou a Oitocentos. O vapor. O apito. Os trilhos. O farmacêutico prático. A telefônica. O telefone conectado por pinos. O Grapete. O rádio.
A embalagem retornável. O consumo pensado. Época em que educar era responsabilidade e atribuição dos pais. O orgulho de ser professor. A redação. Somar, multiplicar, dividir, subtrair. O vizinho. Os vizinhos. Amigos. A anemia. O xarope. A Emulsão Scott. O óleo de capivara.
O corte zero. A brilhantina. O cabelo encrespado. O vestido e os sapatos salto alto. A camisa de tropical. A calça de tergal. O friso permanente. A conga. De pé no chão. A bola de meia. O carrinho de lata de óleo. A raia. A bolita. Os mais velhos. Os pais. O respeito.
Não recebi o teu e-mail. A imagem digital. Conexões Wi-Fi ou Wireless. Sensores. Injeção eletrônica. Nanotecnologia. A partícula de Deus. A insegurança. O assassinato banal. A geração do “Pitbull”. O crime virtual. A morte trocada por tênis Nike. A bipolaridade. A depressão. O Prozak.
O laptop. Sistemas operacionais. Aplicativos. Gigabytes. Grades. A prisão urbana. A falta de tempo. A falta de limites. Os pequenos imperadores. Os filhos prematuros e os acidentais. Os pais avós. A ilusão da liberdade. A dependência. A indolência.
O short com sapatos de salto alto. A ousadia. A coragem de conviver com o ridículo. A inversão de valores. A banalização da imagem da mulher. O filho todo poderoso. Eu. Eu e o mundo.
Dois mil e cinquenta. Automóveis elétricos. Calças em fibra de Klevar e colete a prova de balas. O toque de recolher. Água reciclada na própria residência. Energia solar, eólica, atômica. O chip. Micro sensores. O monitoramento do paciente via celular. Novas relações entre empregadores e trabalhadores. O autônomo. O Estado. O Controle. O aumento da miséria. A troca da felicidade pela serenidade.