Após a primeira semana

Andei tentando ficar bem, não me preocupando demais com o que viria pela frente, e o que ficaria para trás. Troquei a playlist, e constatei que outras músicas também existiam, além daquelas que eu já sabia de cor, e não aguentava mais ouvir. Certos dramas resolveram não me abraçar mais, e me deixaram pensar que existe sempre alguém para ser conhecido não importa se aqui, ou em algum lugar improvável, daqui a anos, ou daqui a pouco, mas existe alguém. E instintivamente, parei de recitar de cabeça "Carta à Vera Antoun" e talvez eu recite mais tarde, mas por apenas ter lembrado de mencionar aqui. Tive noites que pensei que as horas de tão demoradas para passar não trariam o amanhã, e trouxeram, e continuará trazendo. Fiz planos para esse ano, afinal, é o que a maioria das pessoas tem em comum, e eu de repente queria me manter ligada ao comum, nunca fui de fazer planos e acredito que já desisti da maioria sem concretizar algum, o que há de vir, virá. Sinto saudade de alguém, eu confessaria há um tempo, antes de soltar essa frase, memorizaria um rosto que agora me é tão comum que torna a memorização cansativa, mas eu nem sei se é saudade mesmo, é uma coisa oca que fica quando alguém se vai, e você não deve pensar muito nisso, porque começa a acontecer uma forma estranha de nostalgia, e aquele desejo de olhar para trás e querer ficar por lá mesmo, esse desejo eu chamo de pecado. Acabei resistindo a todas as minhas vontades de "correr atrás" como muitos dizem por aí, e do meu telefone não saiu mais aquele "Sinto sua falta" não sei se era isso mesmo que eu sentia todas as vezes que isso saiu do meu telefone, e automaticamente penso em uma frase de um livro lido mais cedo: "Não sinto raiva, não sinto nada. Sinto saudade, de vez em quando. Quando penso que podia ter sido diferente" e acabo desviando o pensamento. Não saio por aí falando mais o quanto isso dói/doía, não dói mais, eu responderia se me perguntassem, mas só se perguntassem... A vida seguiu, e sem perceber comecei a acompanhá-la, correr junto dela, bem ao lado, porque "correr atrás" é exaustivo, e por vezes você é deixado no meio da trilha, perdendo-se de si mesmo.

Anny Ferraz
Enviado por Anny Ferraz em 22/01/2017
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