Quando Pedir, Faça Observações

Quando Pedir, Faça Observações

As três senhoras me confidenciaram um dia sobre o medo que tinham de ficar doente ou vir a ser um fardo para sua família. Por isso, rezavam diariamente seus terços pedindo a Deus a salvação do mundo e uma morte rápida, aquela do tipo relampago. As três senhoras são respectivamente: minha Avó Joana, minha Mãe e a Minha Sogra, Zulma.

Minha Avó Joana & Meu Avô João

Pois bem, a primeira senhora morreu atropelada ao voltar do Banco Bradesco da Avenida Afonso Bovero. Um menor de idade inconsequente pegou o carro do pai escondido e na volta para casa minha Avó foi estupidamente atropelada por ele ao atravessar a Avenida Pompéia. Segundo um vizinho que testemunhou o tragíco acidente, ela ainda viveu alguns poucos minutos nos seus braços, deu um suspiro e faleceu. Uma tempestade daquelas caiu em São Paulo no fim daquela tarde de 13 de fevereiro. Lembro muito bem por que foi treze dias antes do meu aniversário. Minha Avó tinha verdadeiro pavor de trovões e quando chovia e trovejava muito, ela se apegava no terço e rezava para Sta. Bárbara, principalmente depois que Dr. Adib Jatene colocou um marca passo dentro dela para ajudar o seu coração que andava fraquinho. Naquela tarde houve enchente na Rua Gonzaga Duque, houve muitos trovões e relampagos. Nem importava mais por que a minha Avó já estava no céu com seu marido, seus dois anjinhos, os Santos e Deus.

           Eu, Vinicius, Glaucus (meu primo temporão) e minha Avó Joana.
                                      (Batizado dos meninos 07/07/1985)


           Quatro gerações: Vó Joana, minha Mãe, Ana Luiza e eu.
                       (Dia dos Pais e Batizado da Lu - Agosto de 1986)

A segunda senhora foi submetida à uma intervenção cirúrgica considerada simples pelo seu médico. Apenas três pontes de safena e ela ficaria novinha em folha. Mas logo após a cirurgia, ao ser transferida para seu quarto, o coração da paciente não aguentou e parou. Aprendi através dessa tragédia que nenhuma cirurgia é simples. Chorei como nunca chorei na minha vida. Com a partida da minha Mãe passei a tomar remédio para pressão alta. Dentro de mim só ouvia ecoar: Como vou viver sem a Minha Mãe? Por quarenta e três anos, oito meses e dez dias tive Mãe e agora? Como vou fazer sem a Minha Mãe? Chorei três dias sem parar.

     Os namorados - 1955                        Minha Mãe com suas irmãs - 1963


                     A Vó Ana com o Vinnie e a Lu (1991)


                   As Carolas: Ana, Irene e Marina com Padre Antônio Maria. (2000)

A terceira senhora saiu para fazer compras na verdureira do outro lado da rua. Dois carros pararam para que aquela senhora de oitenta e três anos pudesses atravessar a rua com tranquilidade, mas um motociclista veio em altíssima velocidade e atropelou a minha sogra. O seu corpo frágil voou cerca de 15 metros e caiu no asfalto sem vida. O assassino fugiu sem olhar para trás.
Ela era muito dinâmica, fazia todo serviço de casa sozinha, adorava cozinhar para seus filhos, netos, genros, noras e bisnetos, viajava sozinha, fazia parte do grupo da sua igreja ... Uma verdadeira guerreira, sogra super amiga e uma mulher muito independente. Bastou um segundo para um idiota cruzar seu caminho numa Quinta Feira Santa para acabar com tudo.

Minha sogra: Zulma (2012)

Ninguém quer ser um fardo na vida de ninguém., nem eu. Por isso, toda noite, antes de dormir, eu oro e agradeço pelo dia que passou e peço a Deus por um mundo melhor, sem guerras e ignorância, crianças felizes e saudáveis, justiça, etc. Faço pedidos e oro muito para que nós humanos sejamos mais generosos e tolerantes um para com o outro. Por último, peço boa saúde para mim, que não falte trabalho e ânimo (aí eu faço uma oração especial a São José - Padroeiro do Trabalhador) e quando a minha hora chegar, não quero nada rápido, quero que seja na minha cama à noite enquanto durmo profundamente e faço a última obervação: que seja de quinta para sexta feira, assim quem quiser ir ao velória já emenda com o fim de semana, mas que não seja num feriadão para não estragar os planos de ninguém. Amém.